FERRAGUS- HONORÉ DE BALZAC

   Existem alguns autores, poucos, que são uma literatura completa. Desse modo, ler Tolstoi é como ler todo um capítulo, longo, da história do romance mundial. Se voce ler as quatro principais obras de Tolstoi e mais nada em toda a vida, voce poderá reinvidicar conhecimento em romance e em literatura mundial. Conhecer Tolstoi equivale a ler centenas de bons escritores. É assim com muitos poucos. Romancistas tão grandes, livros tão infinitos que os conhecer aumenta nossa alma, estica a nossa inteligência, dá sabedoria a nossa leitura. Depois deles voce lê melhor.
   Balzac é assim. Ler Balzac é ler toda uma literatura. Mais que isso, ele é inexplicável. Como podemos explicar um homem que escreveu sempre para tão apenas ganhar dinheiro, pagar suas contas, e que mesmo assim fez arte absoluta? Como desvendar um autor que escreveu como máquina, dezoito horas por dia durante dez anos, mais de 80 livros publicados, e que mesmo com essa produção industrial conseguiu ser único? Veja o caso de Ferragus...
   Publicado em capítulos, no jornal, virou febre em França, um tipo de novela das oito em papel. Balzac escrevia com essa intanção, a de vender, e conseguia sucesso. A história fala de ciúmes, de medo, de vingança e sempre de amor. Uma sociedade secreta, gente rica e gente pobre. Ladrões e nobres. E Paris. A cidade é o grande personagem. E como escreve Balzac!!!! Vielas e boulevares, casas sórdidas, palacetes, a lamacenta, fétida, imunda cidade. Putas, bêbados, loucos, devassos, jogadores. Becos para se perder, a cidade que Balzac odeia, e ama, e não se cansa de descrever. Gênios vivem lá e diabos.
   Balzac é diabólico! Me vejo doido para voltar pra casa e ler. Seus personagens nos capturam! Queremos ler sobre eles, conhecê-los cada vez mais. Flanar com eles. As páginas correm. Cores diante de nosso olham. Balzac pinta, faz música, narra e descreve. Seu estilo é a mescla de romance e realismo, de verdade e fantasia. Ele serve o prato completo. Domina sua arte, sabe tudo, sua escrita não tem limites.
   Que escritores passam essa impressão? O dom soberbo de tudo poder escrever, de poder criar milhares de personagens, todos individualizados, todos de verdade. O poder de dar cenário a cada página, de nos fazer ver, escutar e principalmente, querer prosseguir querendo mais e mais. Sensual Balzac, nos pega pelos sentidos.
   Eu admiro Henry James e amo Cervantes, mas Balzac me dá prazer, puro prazer, absoluto prazer. Eis um autor que pode te curar de uma ressaca de más leituras, de páginas mal escolhidas, de indicações da moda.
   Como ocorre com todo grande autor, Balzac é uma prova: Não gostar dele é revelar ao mundo e a si-mesmo a ignorância de um mal leitor.
   Devoro o gênio francês.