SCHOPENHAUER COM JAZZ. BOWIE E O PAPA. UMA DESISTÊNCIA.

   Tem um programa numa tv que nem sei chamado Guitar Sessions. Umas bandas tocam e conversam com um apresentador bacana. Ontem foi o Blondie. Quem viu teve aula sobre o rock novaiorquino. Uma pergunta: Se voce fosse um teen hoje, montaria uma banda de rock? Chris Stein vai no osso: Nunca. Eu amava aquela coisa marginal e rock hoje não é marginal. Não há perigo ou mistério em se montar uma banda. Então o super batera e hiper cool Clem Burke vai no nervo: Rock hoje é como o jazz em 1970. Música saudosista de fãs fiéis. Irrelevante quanto ao futuro. Eles citam bandas legais: Muse, Arcade Fire, mas sabem que elas são um nada diante da coisa da música. O rock virou apenas um negócio inofensivo, como o jazz. Quem desejar flertar com o perigo, com o futuro, com o risco, que procure outra forma de expressão.
   Schopenhauer disse que num mundo sem Deus uma pedra ou um bebê têm a mesma importância. Ambos existem e são reais. Porque o bebê seria mais importante? Por ter consciência? E porquê a consciência é mais importante que a não-consciência? Em mundo sem o sagrado, um cão é tão amado quanto um pai. Matar deixa de ser tabú. A vida vale uma pedra.
   A moral humana? Não me faça rir! A moral humana sem Deus é utilitarismo puro. Uma pedra pode ser util.
   Um texto soberbo de André Forastieri sobre Bowie. Entre 1970 e 1983 tudo o que ele fez é relevante. E pode ser escutado agora e sempre não como saudosismo, mas sim como informação nova. São 12 discos! Diz André que ninguém chegou perto disso. E agora Bowie, sempre digno, dá seu recado: Numa época em que todos falam e ninguém diz nada, ele se cala.
    Penso. Os Stones tiveram apenas 7 anos grandes. Os Beatles 6. O Roxy Music só quatro. Dylan seis anos. O Velvet dois míseros anos. Beach Boys quatro. O Clash? Três anos. Por quanto tempo foi grande o Oasis, Pulp, Jam, Radiohead, Morrissey, Marvin Gaye, James Brown? Strokes ou White Stripes? Elton John foi um deus por cinco anos. Por quanto tempo o Blur não se repetiu? Por quanto tempo eles conseguiram produzir coisas novas? Não viver do passado recente? Por treze anos, todo ano, Bowie foi novo. Não se repetia. Surpreendia. Podia ter ficado toda a vida refazendo Ziggy. Ou Lodger. Young Americans. Mas não. Mudava sempre e sempre e sempre. Em 1999 ele disse que o rock era música de saudosistas. Que ele ainda fazia música apenas como homenagem a seus fãs ( jazz, não é? ), e que os teens felizmente estavam ligados em techno e não em rock. Por quanto tempo o U2 foi grande?
   Elton John, gênio da melodia. Seu show é Mel Tormé, é Tony Bennet, é jazz-pop. Meu ídolo aos 12, 13 anos de idade. O cara fazia hit sobre hit. De 1970 até 1976 ele tem mais de 15 músicas que todo mundo conhece. Usina. Rocket Man é uma obra-prima. Entre outras.
   O Papa se foi. Cansou da sujeira da Igreja. Assim como Deus foi um dia. Ou voce duvida? Deus renunciou por volta de 1300. Depois é nós por nós mesmos. O que temos são pegadas, lembranças de uma divindade ausente.
   O que vai ser da geração que terá 50 anos em 2050?