E TODO MUNDO OUVIA O T.REX ( MENOS OS INTELIGENTINHOS )

   Marc Bolan ( que nome ótimo para um rock star ), não teve sorte. Em fins de 1970 ele ( e o produtor Tony Visconti ), criaram o glitter rock, mas em 1972 o ladrão David Bowie lançou Ziggy Stardust e ficou com a fama. David Bowie É um ladrão, isso todo mundo sabe. Ele roubou o som e o visual de Bolan. Porém, Bowie, gênio que é, melhorou a coisa, amplificou, enriqueceu. Mas o papo agora é sobre T.Rex...
   Entre 1971/1974, apesar de Floyd, Led, Elton, Wings e Rod, entre a molecada inglesa, o que vendia era T.Rex. Tanto que na época se falava da T.Rexmania, se dizia que Bolan poderia bater os Beatles...sózinho. Mas era um sucesso ( ele botou seis singles em primeiro lugar nesses anos ), local. Ao contrário dos nomes citados acima, que vendiam bem no mundo todo e vendiam MUITO na América, o T.Rex vendia apenas na Grã-Bretanha, o que deixava Marc Bolan cada vez mais frustrado. Ele não entendia o porque... ( Hoje sabemos o motivo. Nada de sexualmente dúbio vendia nos EUA da época. Tanto que Bowie só virou POP por lá depois da fase Ziggy ).
   A crítica foi cruel com Bolan. Todo o tempo. Atacavam suas letras, seus riffs, seu visual, sua alienação. A molecada de 12 anos o adorava. E é legal constatar, de Duran Duran a Jesus and Mary Chain, de Human League a Blur, todos foram fâs de Marc Bolan. Toda essa galera, que hoje tem entre 35/50 anos cresceu ao som de seus discos e odiando aquilo que a crítica da época endeusava ( King Crimsom, Gentle Giant e Yes ). O que fascinava a molecada é o fato de que Bolan não parecia real, ele lembrava um cartoon, uma brincadeira, um ET. E seu som, simples e complexo ao mesmo tempo, se comunicava com a ansiedade pré-adolescente, era um som redondo, convidativo, sensual.
   Em sua origem o T.Rex se chamava Tyranossaurus Rex e fazia folk-psicodélico. Quando Marc Bolan conheceu Tony Visconti, um muito afetado e muito ambicioso produtor de discos obscuros, a coisa pegou. Visconti colocou eletricidade no som, percussão e vocais de fundo "glamurosos". Nascia a febre made in England.
   Interessante observar que o timbre da guitarra de Bolan é um dos segredos do som. Ela é cheia, sinfônica, cada acorde simples repercutindo e ocupando todo o espaço. Na engenharia de som de Tony Visconti trabalhavam dois futuros produtores de sucesso: Roy Thomas Baker que criaria o som do Queen, e Martin Rushent, que seria o rei do techno-pop anos 80. Ah sim....em 1974 Bowie roubaria Tony Visconti, que seria seu produtor entre 74/80, sua melhor fase...
   Vamos ao disco. THE SLIDER, meu disco favorito da banda.
   A capa tem foto de Marc Bolan tirada pelo fotógrafo...Ringo Starr...Sim, na época Marc, Ringo e Elton John eram inseparáveis. Vai saber...
   Ele abre com Metal Guru, faixa que literalmente arromba o barraco. Tem clima de anos 50 e logo se percebe a beleza original dos backing vocals. Esses vocais de fundo, marca registrada do som T.Rex, são feitos pelos ex-componentes da banda Turtles e também pelos próprios Visconti, Baker e Rushent. Eles gemem, gritam, cantam, sibilam e harmonizam, sempre "glamurosamente"...
   Mystic Lady é uma faixa linda e estranhamente "silenciosa". O baixo decola e tem um arranjo de cordas pensativo. Marc divaga sobre seu tema favorito, o misticismo espacial ( era isso o que mais irritava os inteligentinhos da época ).
   Rock On exibe o riff perfeito. Riff da guitarra de Marc Bolan. Ele criou em toda a vida dois riffs, e tudo o que compunha era variação sobre esses dois. Mas e daí? Esse riff justifica toda uma carreira. Rock On é pop perfeito.
   Chega a hora de The Slider, faixa que dá nome ao album. E eu penso: -Qual é o mistério da tensão que há nessa canção? Tensão que vicia, música perfeita. O riff quase se desfaz, quase nada de voz,  e ela se esparrama no ar, cristalina, diáfana, sedutora. É um dos mais sublimes momentos de todo o pop inglês.
   Baby Boomerang ( os nomes das faixas são deliciosos ), é totalmente milk-shake, vocais festivos e dança discreta. Alegre.
   Spaceball Ricochet é outra meditação de Bolan. Ele divaga e canta com sua voz mínima.
   Entra então Buick MacKane, um kaos. Uma sinfonia de rocknroll. Gritos, muita percussão e um riff absoluto. Impossível não ser tocado na alma por essa celebração ao rock mais genuíno. Sanguinea.
   Telegram Sam, eis o riff que Marc criou em sua mais completa simplicidade. Os ooooooohs de fundo são o supra-sumo da afetação gay. Lindo.
   Rabbit Fighter é insinuante, sensual. O timbre da guitarra é trabalhado até a saturação.
   Baby Strange tem cordas exatas. O riff é insistente. A colisão das cordas e da eletricidade da guitarra faz da canção um doce envenenado.
   Ballrooms of Mars. Clima de fim de festa, pensamentos soltos, dispersão.
   Chariots Choogle tem backing vocals muito agudos, um riff sublime e cordas graves, urgentes. É um dos pontos mais altos do disco.
   Por fim, Main Man, uma absurda canção triste. Ah sim...em 1974 quando Bowie lançou sua editora musical a batizou de Main Man....
   Em 1974, dois anos após este disco, Marc Bolan destruiu sua carreira. Primeiro se casou com Gloria Jones, uma cantora americana...negra. Seu público estranhou, não exatamente por ela ser negra, mas por ela NÃO ser glamurosa. Logo em seguida ele muda seu som. Bolan passa a fazer canções dançantes, soul music, negras. E se muda para a América, em busca do sucesso que por lá nunca veio. Em 1977 ele morreria em acidente de carro.
   Ah sim...em 1975 David Bowie lança seu disco dançante, Young Americans e se muda para New York...mas aí é maldade dizer que essa guinada de Bowie foi roubo sobre Bolan. Na verdade nessa altura Bowie seguia os discos solo de Bryan Ferry, soul de plástico bem produzido. Logo depois David iria para Berlin, roubar ideias de Eno e do Kraut Rock.
  Marc Bolan foi um rei durante apenas três anos. Mas foram grandes anos. Num momento de pop brilhante, de fortíssima concorrência, ele conseguiu se destacar fazendo tudo da forma mais simples. Mas o tempo mostrou que era um simples sofisticado, polido, sábio. Quando a fórmula se esgotou, ele tentou outro caminho. Seus discos dançantes são ruins. Bolan não tinha o talento da reinvenção ( talento que sobrava em seus rivais, Bowie e Ferry ).
  Odiado pelos hippies, vaiado pelos cabeças, ele foi idolatrado pelos moleques que se tornariam no futuro punks e new waves. Marc Bolan é um dos belos segredos do pop.
  PS: foi a partir de 1972 que o rock inglês começou a se distanciar dos EUA. Se nos anos 60 quase tudo que estourava na Inglaterra vendia nos EUA ( as excessões foram Kinks e Small Faces ), a partir de 72 bandas como Slade, Status Quo e Roxy Music, grandes vendedores na GB, eram desconhecidas na América. Os campeões americanos continuaram e continuam a vender na Inglaterra, mas o contrário deixou de ser verdadeiro.