ZORBA,O GREGO-NIKOS KAZANTZAKIS, NADA COMO O SOL

Foi um tempo de deserto, o tempo em que li Zorba pela primeira vez. O sol me fazia suar muito e eu conhecia Zorba do jeito certo, debaixo do sol. Era um tempo em que minha caixa de proteção havia se quebrado e medo + dúvida me seguiam sem trégua. Mas eu conheci esse grego antigo como a vida e passei a sentir a existência como alguma dádiva. Nunca mais fui o mesmo.
Um intelectual inglês viaja à Grécia. Lá ele irá administrar uma mina que herdou. No barco que cruza o mar ele conhece Alexis Zorba, um grego sem cultura. Um grego que lutou em guerras, que matou, que chorou, um homem que viveu. Zorba é o homem antes da cultura, antes da separação ( traumática ) entre homem e natureza. Zorba não questiona o que a vida é ou pode ser, Zorba aceita e deseja.
Os dois se tornam amigos e o velho grego lhe ensina a comer, beber, brigar e principalmente a amar. A vida se dá para o "empurrador de canetas". Ele passa a entender que o vinho é um milagre, que a morte é para ser odiada, que toda mulher deve ser amada.
Zorba diz que tudo o que não pode ser dito deve ser dançado. Ele dançou a dor quando seu filho morreu. Ele dança a alegria de ser seu amigo. Zorba está além e antes da palavra.
A mina se torna um fiasco maravilhoso e os dois se separam. O inglês nunca se tornará Zorba, ele surgiu tarde demais em sua vida. O grego o convidará para ver "uma pedra", mas o empurrador de canetas ( hoje seria um apertador de botões ) não vai. Na versão de cinema tudo termina com a maravilhosa dança de Anthony Quinn, ator que se tornaria desde então Zorba para sempre.
Mas quando li o livro pensei todo o tempo em meu avô como Zorba. Um homem de pedras e de sol na cara, em lombo de burrico, com vinho e azeitonas. Sólido como o para sempre.
Releio Zorba a cada sete, oito anos. Esqueço às vezes o quanto ele me fez bem. Mais que isso, deu valor a minha hombridade, salvou-me de uma aridez snob. Fertilizou minha cabeça dura.
Porque ele me fez amar a mulher que tem sabor, que goza em despudor, que ri alto e chora berrando. Me fez saber o que o sol é: o rei dentre os reis e mágico incenso da mente. Me fez aceitar minha cara mediterrânea, meu peito cabeludo, meus dentes afiados e minhas mãos que são patas. Deu sabor de sol à minha vida.
Dei a mão ao velho Zorba e não mais a larguei.
Kazantzakis, solitário caçador de sentido, angustiado indagador, criou/encontrou Zorba e deu a si-mesmo e ao mundo um Homem.
Meu melhor é Zorba. O resto nada vale.