UMA NOITE ETERNIZADA PARA SEMPRE OU MAIS UM POUCO...

Ela levou um gravador. Pesou e o rolo de fita atrapalhou sua noite. Mas valeu a pena. A banda não faltou. Era 1969 e havia por volta de 60 pessoas no lugar. Ela ficou sentada numa das mesas, bem na frente do palco e ligou o PLAY REC. Agora chove e é uma primavera da década de 2020. os anos vinte de outro século. Não há como haver uma gravação AO VIVO mais ao vivo que esta que voa pelo meu quarto. Estranhamente, Lou Reed parece ter 18 anos aqui. Eu sei, nessa noite ele já tinha 26, mas a gravação passa uma energia tão real, há uma PRESENÇA tão volátil, que fico testemunhando um cara de 18 anos tentando não desistir. Em 69 o Velvet já era. Andy era outro, Nico se fora, John Cale não havia mais e Tucker saíra para ser mãe. A onda passara. Em apenas 2 anos tudo mudara. De ESTRELA DO FUTURO eram os esquecidos do passado distante. Só dois anos cara! Mas nos anos 60 dois anos eram dois séculos! O que era IN em 67 era agora OUT. E o Velvet, IN para os mais antenados de NY, era agora, em 69, menos que OUT. Vozes ao redor: um cara diz estar muito doido, outro pede cocaína. Uma menina ri. Conversam enquanto a guitarra sola. Tá tudo gravado. A banda toca como se fossem novatos, o povo não tá nem aí. Engraçado, eles não sabem não sabiam que mais de 50 anos passados aquela noite ainda tá viva, aqui no Brasil. São 45 minutos de show e eles tocam bem, rocknroll de verdade. Billy Yule tem uma bateria de baile, bem legal, e Doug Yule, pobre Doug, tava tão apaixonado por Lou que imitava a voz e o jeito do cara. Ele canta duas faixas. Alguém pede Heroine e Lou diz que esta banda não toca Heroine. O set é perfeito, mas quem liga? Não param de falar, esse bando de malucos no Max. O CD não mente, eles estavam lá pelas drogas, a banda é apenas o som do lugar. Mas uma menina levou um gravador e fixou pra sempre aquilo tudo. TODOS OS DISCOS AO VIVO DEVERIAM SER ASSIM. Porque isto é um documentário de uma noite incapturável e memorável e eterna e inexistente. Sobre uma banda que começou acabando e vive para sempre por nunca ter dado certo. Caramba! Que bela definição acabo de encontrar: a banda que nunca deu certo. Mas que perdura e dura. Senhores, que puta disco!