UMA CARTA PARA LOU

   Eu nunca consegui ser Mick Jagger. Nem mesmo Rod Stewart ou Iggy Pop. Mas voce Lou Reed me revelou que eu podia ser o que eu era. Uma fauna havia pelas ruas. E o lance era saber ver/ saber olhar. E todo mundo nascia, todo mundo um dia ia morrer, mas muito pouca gente vivia. Naquele tempo o Paulinho Boca de Cantor cantava "Quando eu pirar pra lá de Lou Reed". Mas voce nunca pirou! Sua esquisitice, que era muita, estava sempre sob controle. Sua estirpe era a de gente como Bogey. Frio debaixo de uma enorme pressão. Aliás na real voce não tem canções confessionais. Escreve como autor de livro policial. Conta um conto, voce estava nas entrelinhas.
   Diziam que voce era um chato. Marrento, vaidoso. E daí? Quem não é? Uma riqueza interior imensa dá de troco uma dificuldade em ser e estar. Caramba Cara! Gente como voce devia viver pra sempre! Mas talvez a coisa já estivesse concluída. Como diz o Bardo "Devemos uma Morte para a Vida." Voce pagou sua dívida ontem.
   A Factory....o sonho/pesadelo de todo artista destes tempos frios. Usina de produtos que eram arte-empacotada como ironia ao mundo. E a trilha sonora era sua. Viva, Dalessandro, Andy, Jim, John, Nico, Mary, Stirling, Maureen, Paul.... Moda, imagem, parecer ser, ser ao parecer, a imagem como fim...Voces inventaram o mundo das virtualidades, Parecer sendo mais importante que Ser. POP.
   Como alguém como voce morre? A serenidade terá vindo? A nova sensação? O anjo secreto do fim? Ou foi a escuridão suprema e vencedora? Andy está aí? Quando Bowie irá?
   Eu larguei as ruas Lou. Elas se fizeram cinzas. Não têm mais o compromisso do preto. É um tempo de ocres, de pastéis. Tudo o que Rauschemberg não queria. Por falar nisso, já achou Keith e Basquiat por aí? O céu é grafitado? Ele tem um Wild Side?
   Sinto sua falta.
   PS. Agora para nós que ficamos faz mais sentido cantar Satellite of Love.
   Amor, Tony Roxy.