ANOS 90 HOJE? NÃO MAIS BB.
A década de 1990 foi divertida. Muito divertida. Os gérmens do politicamente correto já estavam lá, mas a gente não sabia disso. O que importava é que eram feitos, ainda, filmes como Dazed and Confused ou The Limey. Duas correntes corriam paralelas naquele tempo, uma delas era a do deprê gótico, mas ainda era um gótico que erguia a cabeça, que olhava nos olhos, que usava o estilo e não era usado por ele. A outra corrente era a da esperteza, feita de carros velozes, mulheres fatais e estradas cheias de pó. Essa corrente, muito americana, muito sexy, naufragou nos últimos dez anos. Foi extinta de tal maneira que hoje qualquer série de TV que mostre um cara fumando ou bebendo é considerada nostálgica. Filmes como os primeiros de Tarantino ou de Soderbergh se foram para sempre e bandas de rock se tornaram fofas. A impotência tornou-se comum. ------------ Ontem vi um post sobre a NASA. A NASA em 1960. Uma lousa imensa onde cinco cientistas fazem cálculos. Aquele era o computador que mandou os primeiros caras pro espaço: uma lousa. Fascinante né? Pois bem. Choveram comentários do tipo: cadê os negros? As mulheres foram exploradas! O que esses brancos machos sabiam? " HAVIA UM GRUPO DE MULHERES NEGRAS FAZENDO OS CÁLCULOS EM UMA SALA SECRETA" ( sim, uma mocinha disse isso ) ...... ----------------- Em outro post foram eleitos, por uma revista americana, os 10 maiores singles da história. Todos black music. Sem Beatles, Dylan ou Beach Boys, o que temos é Aretha, Otis, Marvin, Stevie Wonder, Beyoncé, James Brown, Outkast, Supremes, Prince, Whitney. Eu sempre defendi a beleza da black music, desde criança eu dizia aos meus amigos que Ray Charles tinha mais voz que Robert Plant, mas caramba!, o que está acontecendo? ------------------- Nos anos 90 havia ainda o bom humor de se poder dizer foda-se e uma série incorreta ao extremo como MARRIED WITH CHILDREN ia ao ar. Nessa série, um pai de família fracassado, vive seu dia a dia com uma esposa perua que nunca transa com ele, um filho virgem e uma filha idiota. O pai, Ed O'Neill em um daqueles momentos que definem uma era, ataca gordos, gays, mulheres, feministas, yuppies, vegetarianos, pacifistas, todos são alvo. Um de seus amigos é negro, então jamais acontece um ataque racial, mas fora isso a metralhadora verbal dispara sem cessar. O pai, Al Bundy, nunca é descrito como um tolo, ele é um cara que fracassou, amargo, desesperado, e com o qual nos sentimos parceiros de derrota. É um tempo onde ainda se podia rir com os republicanos e não se desumanizava sua existência. Os democratas ainda não haviam pirado, eram apenas os caras que davam as melhores festas. --------------------- Pensei tudo isso ouvindo Jon Spencer Blues Explosion, um tipo de rock muscular-macho-de estrada que nos anos 90 ameaçava fazer sucesso mas que nunca vingou. Quando o século virou o que deu certo foi o rock fofo tipo Coldplay ou a espécie de banda, muitas, engraçadinha, que reciclava os anos 80 sem o chique de 1981. Nunca mais houve um sex symbol rocker ( Casablancas? Ele era conhecido por quem? ), e em 2015 o estilo já não importava. Na corrida das duas tribos o que venceu foi o tristonho, o politicamente correto, o bonzinho. Eu não sei e não há como saber o que virá depois, mas acho que o espírito safado dos anos 90 nunca mais voltará. Estamos em 2023 e o século dos anos 90 já se foi a tempos. PS: Funk é safado? Não. Funk é apenas masturbação para gente que ama bandidagem ou pensa que ama. São corpos suados. Pornografia de desesperados. A safadeza de que falo possui cérebro, ela vê, ela observa, ela é cool. Pense em George Clooney até o ano 2000. Os anos 90 eram aquilo. Hoje não mais.