ASSISTINDO ERIC RHOMER EM 2021
Séries de TV são todas, hoje, educativas. Ninguém faz nada em TV que não tenha uma mensagem escolar. O moralismo impera e ele é bem raso. O andar de cima subestima a inteligência de todos. Sempre foi assim, sempre subestimaram, mas agora querem formatar seu público. Então toda atração e todo show será um pouco feminista, ecológico, igualitário ou pacifista. Ninguém liga a TV para perder tempo com coisas que não sejam aparentemente uteis. Por isso tanto programa de gastronomia, saúde, mecânica, decoração ou ciência. Por isso tudo que assisto é esporte, competição inutil. Mas mesmo nele há agora a onipresença da mensagem do bem. Ou esse povo do poder fuma muita erva e ouve REM ou eles sentem muita culpa por serem ricos. Eu apostaria em ambas as respostas. ------------------------ Após um longo tempo assisti ontem um filme de Eric Rhomer. Ele é aquele diretor francês chato que filmava gente conversando e não fazendo coisa nenhuma de util. Há um tipo de pessoa que o adora, aqueles que acham que o tédio é chique. Na verdade há outro tipo de pessoa que gosta dele: gente como eu, que gosta de ser voyeur de pessoas interessantes. O JOELHO DE CLAIRE é seu melhor filme. Talvez por ter atores melhores. Talvez por ser filmado na Suiça. ----------------------- Rhomer é moralista, todo filme seu tem uma conclusão que exibe uma moral. Mas ele não é educativo, sua moral é aquela das antigas igrejas e dos antigos filósofos. Para ele o que é certo é indiscutível. Ele pouco se importa com ecologia ou direitos das minorias. Ele se precocupa com o BEM e a JUSTIÇA. É tudo. --------------------------- Em estilo Rhomer seria um diretor bem contemporâneo. Nunca se fizeram tantos filmes estáticos ( falo dos filmes de festivais de cinema ). Gente falando sem parar é UP neste século. Mas Rhomer tem duas características que estão bem fora de moda hoje: ele filma gente comum. Ele foge do que é sensacional. Desse modo, vendo seus filmes, o típico consumidor de filmes de 2021, achará os personagens desinteressantes. Ninguém está morrendo. Ninguém se droga. Não há gays ou negros. Sem suicídio ou pais que surram os filhos. E, por isso, não há a grande cena de drama e dor. ------------------------- Rhomer consegue algo muito esquisito: ele é hiper artificial e ao mesmo tempo muito real. Artificial porque as pessoas falam posando, falam bonito demais, não ficam nunca à vontade. E muito real porque nossa vida é como em seus filmes: nada de grandes cenas, nada de momentos ousados e heroicos. Apenas pequenas descobertas e dores discretas em meio a prazeres não percebidos. ---------------- Vale entender.