RUDIN - IVAN TURGUENIEV

Escrito no meio do século XIX, este é o primeiro romance de Turgueniev, autor central naquela que é a nação com a prosa mais perfeita da história. Rudin expõe as características do tal "milagre russo", a condição de um país tão atrasado socialmente, a Russia de então era ainda medieval, ter ultrapassado países como Inglaterra e França no estilo romanesco. ---------------- O segredo é a complexidade do páis: a Russia tinha religião absoluta e ao mesmo tempo criava o niilismo mais radical, tinha milhôes de servos analfabetos e ao mesmo tempo a classe aristocrática mais culta do planeta, acreditavam em bruxas e maldições e também na técnica e no materialismo. Nas ruas, conviviam pessoas que exitiam como em 1350 e dandys de 1850. Tudo isso temperado pelo exagero eslavo, pela emoção sempre a flor da pele. Se os ingleses escreviam melhor e os franceses eram mais modernos, os russos tinham o segredo de criar personagens mais reais e ao mesmo tempo maiores que a vida. ------------------ Todo país protagonista na história do mundo nasce já se anunciando. A Russia é central desde sempre. ---------------------- Rudin é um homem de 35 anos que surge na casa de campo de uma rica senhora. Logo ele domina a conversa de todos os jantares, Rudin tem o dom da fala e sua fala é filosófica, revolucionária, moderna. Mas, precipitado e auto-iludido, ele cai em desgraça e é expulso de seu meio. Rudin é o intelectual que não age, aquele que inventa desculpas para jamais se comprometer, nunca ir da teoria à ação. Vaidoso e cheio de pose, sua máscara logo cai e sua verdade aparece: ele é só palavra, não possui alma. ----------------- O romance é delicioso de se ler. Gostamos dos personagens, eles nos envolvem, e nisso ele é bem russo. Um ponto me incomodou, e isso considero uma falha, Turgueniev era ainda um autor muito verde em 1855, é o modo como Liejnev perdoa Rudin na parte final da história. Me pareceu artificial isso, e o livro se torna uma exposição de tese. Mas, fora isso, é um belo romance que merece muito manter sua importância histórica. Afinal, 170 anos depois, um leitor no Brasil ainda sente prazer com suas frases bem arquitetadas.