FUMAÇA - TURGUENIEV
Após os cinco gigantes, Tolstoi, Gogol, Dostoievski, Pushkin e Tchekov, vêm Lermontov e Turgueniev. Nada épico, sempre pensamos no romance russo como afresco imenso, Turgueniev não escrevia almejando o gigantesco, sua ambição parecia mais particular. Mas creia-me, seu poder de nos fazer habitar dentro de seus livros é incomum. Moramos neles. Fumaça trata de um jovem que está em Baden, na Alemanha, esperando sua noiva que lá irá o encontrar. Enquanto espera, ele conhece vários jovens russos que moram em pensões medianas. e mais importante, topa com um amor de dez anos atrás. Esse reencontro modifica sua vida, ou não? A questão é: Nós realmente mudamos? ------------------------------ O personagem central, jovem de 30 anos, noivo, com algum dinheiro mas não rico, exita, pensa, não se decide. Em Baden ele conhece jovens estudantes e depois os funcionários ricos do estado. Sua ex namorada, aquela que ele reencontra, é agora esposa de um general e se tornou rica. Turgueniev não perdoa, ele demonstra, através do personagem do central, todo seu ódio aos intelectuais e aos poderosos da Russia. É um desfile de gente pretensiosa, ridícula, vazia, falando coisas totalmente sem valor. Já próximo ao fim, Turgueniev conclui: a Russia está fadada ao imobilismo, nada nunca mudará. ---------------- Mudou? Após uma revolução e mais de 150 anos, mudou? --------------- Há uma cena em que franceses conversam em Baden e por mais que evitem acabam por falar de mulheres. Ingleses falam de novas invenções e de esporte. Alemães de progresso, da nova Alemanha. E do que falam os russos? Fofocam. E falam, de modo exagerado e nada realista ou prático, de política. Dão vexames. ---------------------- Turgueniev consegue nos fazer ver algo em comum entre brasileiros em 2023 e russos de 1870, a eterna espera e a repetição sem fim. O livro, como PAIS E FILHOS, obra mais famosa do autor, lido por mim em 1988, é ótimo.