A ILUSÃO DO DESTINO MANIFESTO RUSSO
Faz mais de 200 anos, desde Pedro, que a Russia tem a absoluta certeza de ser não só o maior, como o país escolhido por Deus. Eu acredito que território designa psicologia de um povo. Coisas como clima, paisagens, fauna, flora, fronteiras, definem a alma de uma nação. Tanto quanto a história. Na verdade, mais, pois a história é consequência do povo lá acente. Não vou descrever o fato de que meu país, o Brasil, tem a alma que seu território cria. É grande, quente, barroca, difícil de penetrar, privilegiada, farta, fácil, pantanosa, pestilenta, cansativa. Seja Portugal, país acuado na beira do mundo, seja Inglaterra, uma Europa que é uma ilha, cada nação é aquilo que sua geografia lhe dá. A Russia é um corredor, uma planície fria, que vai da Europa à América, da beira da Arábia ao Polo. É um horizonte, é solitária, é vazia, é um nada que tem quase tudo. É uma alucinação. -------------- Teimosa e tolamente, a alma russa persiste. Ela nunca foi comunista, ela usou o comunismo para manifestar sua ilusão de possuir uma missão: Guiar os povos, ser o centro de fato do mundo. Antes do comunismo a Russia usou o militarismo da aristocracia mais cruel. Usou a religião ortodoxa. Agora, após o fim da URSS, ela usa o que está à mão: o apelo aos pseudo valores conservadores mais primários. ------------------ Putin é esperto, talvez o único líder com alguma esperteza em 2022. Sabe que para os velhos comunas, o nome Russia sempre será visto co carinho. Sua meta então é conquistar os conservadores, grupo que mais cresce no planeta. Para isso ele apela às aparências e não à substância: Virilidade, agressividade, ordem, religiosidade e militarismo. Sua sacada foi sentir que este era o momento psicológico perfeito: se opor, em ato e em fala, a Biden-Trudeau e Macron, a trinca que concentra o ódio dos conservadores. ---------------- Fosse Putin americano ou chinês, ele se oporia à eles ao modo soft power: penetrando lentamente na cultura das nações, colocando agentes chave nos postos internos dos países, comprando políticos e midia. Mas ele é russo e seu modo é curto e grosso: ataque frontal, discursos objetivos, nada de simpatia ou soft power, é hard-heavy. ------------ A Russia jamais será os EUA por isso. Não sabe conquistar corações. Não sabe se fazer de palhaço. Não sabe criar hábitos e vícios. Eles serão sempre os ursos. Nunca Mickey Mouse ou Charlie Brown. --------------- A outra nação que crê em destino manifesto, não por acaso, são os EUA. Mas há uma diferença abissal entre os dois. Os USA conseguiram ser tudo aquilo que desejaram um dia ser. Cultura central, fonte do dinheiro do mundo, amados e odiados por todos em porções iguais, irradiador de tendencias de pensamento e de comportamento, guerreiros e vilões que sempre conseguem se safar como pacifistas e gente do bem. A diferença nasce do fato de que a URSS foi e é uma nação DIRIGIDA POR UMA CASTA. Casta antes aristocrática, depois burocrática, agora militar. Enquanto os EUA foram e são sempre o mesmo, uma nação pensada, dirigida e planejada por doutores, professores, trabalhadores liberais, industriais e banqueiros. Gente que entende a necessidade de ter um alvo definido, planejar e executar exatamente o que foi acordado entre eles. O destino russo é o do cavaleiro duelista. O americano é o do vendedor. ---------------- Por isso que por mais que a América tenha eleito desastres como Carter, Bush filho ou Biden, ela sobrevive sempre a mesma. Enquanto a Russia vive sempre envolta em dramas dignos de sua literatura sem igual. Os EUA são Mark Twain. A Russia é Dostoievski.