Pondé é um cara de grande importância pra mim. Lendo seus escritos na Folha, lembrei, com alegria, dos textos de Paulo Francis. Não que eles se pareçam, mas Pondé compartilha com Francis o desejo de remar contra o esperado, o comum, o bem aceito. Ele consegue isso dizendo apenas aquilo que muitos pensam mas evitam dizer. Vivemos o tempo da hipocrisia, fingimos não ter preconceitos, não ter impulsos violentos, fingimos uma civilidade que na verdade não é civilizada, é apenas covardia. O espírito da manada voltou em forma de ovelha. Ovelha do bem, multicolorida.
Ele cunhou um dos termos que mais gosto: o inteligentinho. Nada define melhor o povo que serve água aromatizada, ceviche e fala sobre ecologia light que a palavra inteligentinho. O inteligente mirim recicla lixo, não fuma e só usa drogas naturais. Ele é um carinha que respeita as mulheres, deixa os filhos livres para experimentar tudo ( desde que seja do bem ), e tem um vira lata salvo do abrigo. Há um texto neste livro, hilário, que descreve esses seres iluminados.
O livro, curto, é composto por alguns textos. Pondé reafirma sua posição como trágico. Ser trágico é ser o anti-inteligentinho: saber que não temos poder nenhum sobre o destino e sobre nossa vida. Inclusive e principalmente sobre nosso corpo. Os gregos sabiam que éramos joguetes nas mãos dos deuses. Deuses que eram como reis temperamentais. Mudavam de humor e com isso nos castigavam ou protegiam. Nada na vida grega escapa ao humor imprevisível desse destino. Nossa vida é apenas um barco perdido num mar feito de acaso.
Gosto desses textos, mas Pondé me conquista nos dois últimos: aquele que fala de Jó e da Biblia Hebraica. Fico espantado no modo como Pondé descobre a validade do pensamento judaico. A imagem do vazio, do deserto, do grão de areia, do nada...Somos um grão de areia no Sinai. Deus, um vazio, um nada, nos concede a graça, mas apenas quando conseguimos nos aproximar desse vazio. A solidão necessária à essa graça. Me surpreendo ao notar que essa aproximação de Pondé, essa quase aceitação da fé, se constrói do mesmo modo e pelos caminhos que a minha: o niilismo, a negação do sentido, a descoberta da beleza, o vazio cheio de nada, a graça. E o silenciar.
Pondé diz escrever cada vez menos. Isso se deve à desconfiança em relação às palavras. Mas também à inutilidade de fazer. À preguiça que advém do nada. E, adendo meu, ao horror ao excesso de "coisas", sintoma do mundo moderno, mundo lotado de objetos, palavras e acontecimentos fúteis.
Leia Pondé. Este é um bom começo. ( No texto acima cito alguns pontos do livrinho ).
Ele cunhou um dos termos que mais gosto: o inteligentinho. Nada define melhor o povo que serve água aromatizada, ceviche e fala sobre ecologia light que a palavra inteligentinho. O inteligente mirim recicla lixo, não fuma e só usa drogas naturais. Ele é um carinha que respeita as mulheres, deixa os filhos livres para experimentar tudo ( desde que seja do bem ), e tem um vira lata salvo do abrigo. Há um texto neste livro, hilário, que descreve esses seres iluminados.
O livro, curto, é composto por alguns textos. Pondé reafirma sua posição como trágico. Ser trágico é ser o anti-inteligentinho: saber que não temos poder nenhum sobre o destino e sobre nossa vida. Inclusive e principalmente sobre nosso corpo. Os gregos sabiam que éramos joguetes nas mãos dos deuses. Deuses que eram como reis temperamentais. Mudavam de humor e com isso nos castigavam ou protegiam. Nada na vida grega escapa ao humor imprevisível desse destino. Nossa vida é apenas um barco perdido num mar feito de acaso.
Gosto desses textos, mas Pondé me conquista nos dois últimos: aquele que fala de Jó e da Biblia Hebraica. Fico espantado no modo como Pondé descobre a validade do pensamento judaico. A imagem do vazio, do deserto, do grão de areia, do nada...Somos um grão de areia no Sinai. Deus, um vazio, um nada, nos concede a graça, mas apenas quando conseguimos nos aproximar desse vazio. A solidão necessária à essa graça. Me surpreendo ao notar que essa aproximação de Pondé, essa quase aceitação da fé, se constrói do mesmo modo e pelos caminhos que a minha: o niilismo, a negação do sentido, a descoberta da beleza, o vazio cheio de nada, a graça. E o silenciar.
Pondé diz escrever cada vez menos. Isso se deve à desconfiança em relação às palavras. Mas também à inutilidade de fazer. À preguiça que advém do nada. E, adendo meu, ao horror ao excesso de "coisas", sintoma do mundo moderno, mundo lotado de objetos, palavras e acontecimentos fúteis.
Leia Pondé. Este é um bom começo. ( No texto acima cito alguns pontos do livrinho ).