A AUTO-AJUDA DAS SOMBRAS ( PONDÉ, O VAMPIRO FUNKY )

  Está escrito no rosto de Pondé o deslumbre pela fama. Quando ele fala tudo tem um acento de "veja como falo as verdades". E pior, por várias vezes ele cai na tentação da piadinha fácil. Seria delicioso se fosse um cara tipo CQC, mas é um filósofo. Pondé não sabe, mas em seu reducionismo tolo, faz o papel de auto-ajuda dark, um tipo de new-age para quem se vê como muito superior à new-age.
   Uma hora falando o óbvio: "Gente! O ódio é real e existe em todos nós!" Caramba! Ninguém sabia disso! Ele conseguiu ser mais primário que o mais banal dos consultores-psicólogos de programa feminino. O triste é que eu sei que de banal Pondé não tem nada. O problema é seu deslumbre.
   Ele simplificou tanto algumas coisas que me dá a sensação de que ele pensava estar falando para um bando de crianças. Dizer que irmãos têm como laço apenas a trepada acidental dos pais é reduzir algo de hiper-complexo a uma piadinha imbecil.  Um irmão, no mínimo, é alguém que interfiriu poderosamente no destino de uma criança. Alguém que compartilhou uma casa, um afeto, um estado emocional familiar. Foi testemunha participante de um drama. Muito mais que mera trepada acidental.
  Quando ele falou de cristianismo, aí a coisa degringolou para a pura tolice. A base do cristianismo não é e nunca foi o "ame a todos". A frase é "Amar o próximo como a si mesmo", e o centro da proposta é o terrível "Como a si mesmo". Amar a si mesmo é a grande dificuldade. Esse amor NÂO é uma imposição, é um alvo inatingível, mas que deve ser tentado. A virtude está na tentativa. Culpa por não conseguir amar? Aprenda a conviver com ela baby.... É isso que nos dá o livre-arbítrio.
   Pondé quase se trai quando fala da inveja. Dá pra ver em sua cara uma coisa tipo : "EPA!"  Ele fala das invejas e cita o dinheiro, o sucesso, as mulheres...mas esquece, para mim de propósito, a principal: a inveja da bondade. Temos um ódio invejoso terrível de quem é bom, de quem parece inocente. Invejamos aquele que parece ter pouco ódio e nos consolamos o imaginando reprimido, fraco ou simplesmente estúpido.
   A marca da auto-ajuda é o reducionismo. Transformar o complexo em simples. Todo livro desse estilo fala de coisas muito importantes de um modo retardado. Pondé se faz um tipo de auto-ajuda das trevas. Seu show de humor cansa.
   Invejo seu sucesso. Deploro sua babaquice.