WALTER SALLES E PONDÉ ( TRECHOS OU THE BEST OF... )

   Limpeza de arquivo de fim de ano. Vai pro lixo este ano minha coleção de Trips e recortes de Pondé e Walter Salles ( gosto de tudo isso, mas preciso de espaço ). Reproduzo o que mais me pegou dos dois.
   24/06/09. Walter Salles fala sobre o fim do cinema independente. Cito, não comento:
   Em vários países o cinema independente passa pela maior crise desde que há 50 anos a Nouvelle Vague e Cassavettes o inventaram.
   Nos EUA os estúdios fecharam várias distribuidoras que haviam criado para lançar ou co-produzir filmes. A New Yorker films, responsável pelo lançamento nos EUA de Godard, Kiarostami e Zhang-Ke, fechou. Mais de 90% dos filmes apresentados em Sundance nunca serão exibidos em salas de cinema. O paradoxal é que com a crise, se tornou mais fácil produzir um filme de 200 milhões que um de 5. A lógica dos estúdios é menos filmes com massivo lançamento. Produzir só o já testado. Não correr riscos. E tome sequels, adaptações de HQ e séries de TV. A safra de 2007 será a última interessante ( ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, NÃO ESTOU LÁ, SANGUE NEGRO ).
   Na Europa a politica cultural protecionista entrará em crise com a quebra do mercado. A TV, que lá ajuda a financiar filmes, passa a só produzir aquilo que possa dar ibope.
   Wim Wenders diz que um filme como ASAS DO DESEJO, hoje não encontraria produtor. Na época a decisão sobre uma produção era outra. Pensava-se a longo prazo, colocar um filme em poucas salas e dar tempo, para que ele criasse seu público. A questão é: mesmo se colocado hoje em poucas salas, há público para um filme como ASAS DO DESEJO?
   Foi-se o tempo em que EASY RIDER ficava vinte anos em cartaz numa sala de Paris. Essa sala, aliás, fechou em 2008. Uma rede de fast-food comprou o lugar.
   A crise de agora ( 2009 ) se refletirá em 2011/2012... que é quando o que se produz hoje ( 2009 ), entra em cartaz.

  Textos de Pondé, publicados entre julho de 2009 e outubro de 2010.

  Lembro-me do impacto que o livro MORRO DOS VENTOS UIVANTES teve em mim. Vi as versões do livro no cinema inúmeras vezes.
  A alma romântica habitando um corpo moderno enfrentará o mundo devastado pela arrogãncia idiota dos modernos, pela objetividade morta da ciência, pelo niilismo do dinheiro, pela certeza cética da inutilidade da verdade. Em uma palavra, será exilada.
  Romanticos aprendem a falar a lingua do mundo banal. Se voce o encontrar num desses jantares inteligentes o confundirá com a espécie mais cínica de pós-moderno. Rirá do amor, defenderá os bebes de proveta, afirmará a vitória do relativismo. Ele manipulará, como quem manipula germes, os códigos da vida devastada.
  O romântico não é um idiota nostálgico, ele é um sobrevivente. Sente-se como uma espécie caçada, um mutante nascido em ambiente hostil. Esse ser é mais perigoso que voce, que ri cercado pela crença boçal de que o mundo seja seu.
  Quem se sabe desde o inicio derrotado detém uma fórmula de poder invisivel que o torna perigoso. Porque não combate pela vitória, mas sim porque sua natureza é combater pelo não-futuro. Resistir é nesta alma uma primeira natureza.
  O romantico é uma espécie de contradição insolúvel no progresso definitivo da vida programada. São caçados como praga. São inimigos de uma vida perfeita.
  O desafio para um romantico é aprender a lidar com suas sensações num mundo onde elas nada significam.  Ao encontrá-lo devemos ter por ele o respeito que merecem as espécies em extinção.

  Um homem deve reconhecer seus ancestrais. Existem várias formas de ancestralidade. Nossos autores prediletos são nossos patriarcas.
  O ceticismo dos gregos, de Montaigne, de Hulme abalou para sempre minha capacidade de ter fé na razão, não em Deus, como pensa a vã filosofia. Nunca acreditei muito no ser-humano. Santo Agostinho e Pascal me ensinaram que o cristianismo é a história de um homem combatendo, ingloriamente, sua natureza afogada no mais sofisticado orgulho e na mais profunda inveja (de Deus ).