THE RISE AND FALL OF PONDÉ AND THE LITTLE SMARTS FROM MARS

   E o glamouroso Pondé coloca o rabitcho entre as pernas e explica aos inteligentinhos tudo que eles jamais poderão chegar perto de entender. Affff...a explicação de Pondé faz tudo aquilo que ele condena: vulgariza, higieniza e pasteuriza. Ele consegue em um só texto desagradar seus negativos ( os inteligentinhos que nunca entenderam patavina do que ele fala ), e gente como eu, que sempre o levou a sério. Pondé jogou alto com sua coluna de Páscoa. Errou por arrogãncia. Sua conclusão hoje cheirou a capitulação. Pior, ele nunca escreveu um texto tão simplório. Falo aqui o que ele não falou.
   A vida é violenta. Viver é matar. O leão adulto trucida uma zebra filhote e a come ainda viva. A vida só pode existir com a morte de alguém ou de algo. Isso é óbvio. Povos primitivos vivem em comunhão com essa lei, neles não se fez a divisão entre humano e natural. A religião desses povos dramatiza a vida, a torna explicável. O conceito de bem, de piedade não existe. O que há é o que é. Com o perdão dessa frase.
   Todas as religiões pré-históricas sacrificavam gente. Em imensas hecatombes de sangue. Maias, aborigenes, navajos, zulus... e mesmo ´civilizações que nos são próximas, como gregos clássicos ou celtas, tinham sacrifícios. Os judeus são os primeiros a praticarem o sacrificio animal e apenas animal. Se dá entre eles uma radical divisão, o homem se faz à parte do cosmo. Instituem um deus único. É nesse momento que o homem passa a olhar para a natureza com estranheza e depois com horror. Foi esse o momento que Nietzsche tanto condenava. Ele não era contra a religião, era contra a religião civilizada.
   O homem sempre foi um bicho estranho. Nos rituais de morte e massacre ele teatralizava aquilo que lhe aterrorizava. Matava para suportar a consciência do fim, maldição que só ele possui, a certeza da finitude. Enchia-se de sangue na tentativa frenética de não mais temer o seu sangue.
   Lendo Comte-Sponville, Pascal e Spinoza, tomo consciência da revolução sem paralelo que foi o cristianismo. Pela primeira vez, de súbito, instituia-se uma religião sem sacrificio ritual. Tudo se faz símbolo. Mais que isso, a piedade deixa de ser sinal de fraqueza e passa a ser força. É a primeira religião do amor e apenas do amor.
   Pondé temeu dizer isso. Perdeu-se em bobagens e enrolou-se. Tentou pela primeira vez agradar.
   O homem comia cérebros ( há quem os coma ainda ), matava rivais e se enchia de sangue. E ao contrário do que ele diz, não há uma só evidência que diga que esse ato de destruição não fosse considerado mágico. O ato de comer o inimigo era homenagem ao rival, e como qualquer antropólogo sabe, era uma comunhão em que o eu-que-comia se tornava o eu-que-era-comido. No Brasil os indios comiam macacos para ser macaco e cobras para ser cobra.
   Isso é rompido. No mundo pós-cristão voce não é o que come ou aquilo de onde vem. Passa a ser aquilo que faz. Isso começa com o cristianismo onde voce é o bem que voce pensa e realiza. Matar se torna um pecado. Voce não precisa mais matar para sobreviver à ideia da morte, voce vive simbolicamente a morte de um Deus para superar a sua morte futura. A poesia mora muito perto destas afirmações. O inconsciente é vivo neste universo.
   O que Pondé nos deu, em dois capítulos, foi sensacionalismo barato. Tudo aquilo que ele não pregava.
   Que mal....