AS DUAS BANDAS MAIS INFLUENTES DA HISTÓRIA
Bing Crosby foi o cantor mais influente do século XX. Foi o primeiro a entender o microfone. Cantores não haviam percebido que com o
microfone não era mais necessário soltar o vozeirão. Voce podia cantar como se estivesse ao ouvido do ouvinte. Sem Bing e sua voz suava,
não haveria Sinatra, nem Fred Astaire, não existiria João Gilberto e nem Roberto Carlos. Claro que mesmo após Bing continuaram a existir as
vozes operísticas. Nelson Gonçalves, Tom Jones e Freddie Mercury são tipos pré microfone.
No Rock leio que existiram duas bandas influentes. A primeira são os Beatles. Já disse e repito, mesmo se voce os despreza, mesmo se voce
acha que Slayer ou MC5 são melhores, foram os Beatles que criaram coisas tão básicas que hoje parecem ter existido desde sempre: o próprio
conceito de banda nasce com eles. Antes o que havia era um cantor e sua banda ( Elvis, Buddy Holly, Chuck Berry ). No máximo existiam grupos
vocais ( The Platters, Beach Boys ) ou grupos instrumentais ( Shadows ). Os Beatles criam a ideia de banda como célula que compôe, canta, se
acompanha e até mesmo produz. Eles inventam aquilo que no rock é dominante até hoje: a auto suficiência construída em três ou quatro pessoas.
Secundariamente, é deles também a ideia da dupla de compositores que canta suas próprias composições, dos albuns que contam uma hsitória e até
da venda de produtos licensiados. O Black Sabbath ou o Pink Floyd podem ter criado novos estilos, mas continuam sendo bandas em moldes Beatle.
Revistas e sites têm cada vez mais lançado a ideia de que a segunda mais influente banda é o Kraftwerk. Dizem até que Computer World ou Trans
Europe Express serão em votações futuras aquilo que Sgt Peppers e Revolver são hoje. Eu pergunto por que, e eu mesmo respondo.
O Kraftwerk destroi o que os Beatles foram sem para isso voltar aos tempos de Elvis ou Johnny Cash. Primeiro: rock sempre foi e ainda é a mais
emocional das expressões. Cantores gritam, choram, ofendem, gemem. Os alemães não. Nem cantar eles cantam. Segundo: Rock são instrumentos tocados
com fúria, ou então com lirismo de menestrel. Os alemães não. Terceiro: uma banda tem bateria, baixo e guitarra, seja elétrica ou acústica. Na falta
da guitarra, piano tocado como percussão. Kraftwerk não tem instrumento convencional nenhum. Quarto: Rock é sincero. Kraftwerk é ironia.
Se os ingleses fizeram nascer toda banda, de Led à Stones, de Nirvana à Radiohead, todas usam o molde formado por cantor sincero, compositores da
banda e a mistura que usa como base bateria, baixo e guitarra ( ou teclado ); o Kraftwerk nem parece ser uma banda. Lembro que nos anos 70 eram
chamados de "fake". Pois não tocavam nada, apenas apertavam botões.
Sem eles não haveria nada de eletrônico. Do Depeche Mode à Marilyn Mason, todos usaram as ideias que em Dusseldorf foram pensadas em 1975. Mais
importante ainda, o RAP e o House foram nos anos 80, segundo os próprios caras desses estilos, inspirados por Computer World, o disco de 1981 do
Kraftwerk. Até 81 fazer rap era fazer aquilo que Kurtis Blow fazia: usar bases do grupo Chic e mandar a voz por cima. Rap tinha muito piano, guitarra riscada e baixo de verdade. Após Computer World, as bases passaram a ser as de Metal on Metal, a percussão do disco alemão. Não estou exagerando. Os caras do Run DMC sempre falaram que suas vidas mudaram quando foram ver os caras em New York, 1981.
Quase 40 anos!!!!! E continuamos fazendo discos que variam entre a banda-Beatles ou a produção eletrônica computadorizada-Kraftwerk. Na verdade,
como notou Bowie em 1976, os melhores misturam as duas coisas.
No Rock n Roll Hall of Fame, aquele clube que tem até Pat Benatar mas não tem o Jethro Tull, Kraftwerk não faz parte. Isso apenas revela que o estilo criado por eles ainda não foi absorvido. Em 2020 o Depeche Mode entrou para o clube. Os alemães não.
Ontem reouvi Computer World. Ainda é inspirador. Pensei em Daft Punk. Pensei em Lady Gaga. Pensei em Rammstein.