MÚSICA ELETRÔNICA

Existem 3 tipos de o música eletrônica: aquela que assume sua artificialidade e faz um tipo de arte de robots ( Kraftwerk e afins ), a que faz o digital soar como intrumentos convencionais ( Pet Shop Boys e uma multidão sem fim ), e os que procuram unir os dois mundos, são gelados e artificiais, mas sem deixar de demonstrar emoção. No começo dos anos 80 o estilo Kraftwerk dava as cartas. Yazoo, o começo do Human League, Gary Numan, Soft Cell, todos tinham a frieza, a emoção contida, o distanciamento dos alemães. E a elegância sublime também. A partir de 1985 isso mudou. O techno se tornou muito POP. Pet Shop Boys e vasto etc desenvolveram um tipo de canção que unia o grude de Abba com a instrumentação do eletrônico. Esse estilo domina o POP até hoje. 90% do que se ouve em 2022 é POP eletrônico. Refrões comuns com fundo de baterias digitais. ------------- Nos anos 90 se desenvolveu um tipo de eletro que me fascinou muito. Ele tinha o melhor dos dois mundos, a frieza e a sonoridade do eletrônico mais robótico com a emoção do punk ou do rock visceral. Na receita entrava até psicodelia, progressivo, metal, blues, jazz, tudo que fosse bom. Essa foi parte grande de minha trilha sonora entre 1994-2002. Reescuto hoje alguns desses sons e o que sinto? Imensa decepção. Parece chato. Parece datado. Parece sem valor. Pior, não tem a emoção da saudade. Dá sono. --------------- Que discos foram esses? ------------- Moby. Sua delicadeza hoje parece apenas melancolia de nerd mal amado. É infantil. Sons que remetem a berçário. Três discos do Massive Attack: Blue Lines, Protection e Mezzanine. Não são nada ruins, claro. Bons discos. Mas não encontro mais o chique que parecia abundante. Têm hoje a cara de quarentões posando em festas entediantes. Tricky e seu disco Maxinquaye, disco que em 1995 alguns chamaram de "melhor disco da história" ( a crítica inglesa é sempre uma piada ). Pop normal, nada ousado. Okay, todo disco que um dia foi vanguarda depois de um tempo parece normal. Será? os discos arrojados de Miles Davis parecem hoje normais? .... Tricky é black music bem feita, bem gravada, com sons interessantes. Mas em 2022 parece igual a tudo que toca no rádio. Appollo Four Forty tem stop the rock que é legal porque usa riff do Status Quo. De resto serve pra fazer ginástica. Moloko, aquele cd que tem fun for me. Esse é bem ruim. Pretensioso. Metido à bacana. Um saco! Daft Punk com Homework. Este cd é bom. O fundo com sons de baixo à discoteque salva o disco. Boa trilha para tomar café e andar na rua. Na verdade, e Eno sempre soube, música eletrônica não é para ouvir, é para fazer algo. Stereo MCs com connected. Bem bom. O vocal é muito bom. Perto dos outros ele parece mais viril, mais malandro. Adamski, aquele cd que tem Seal cantando killer. Deus! É muito ruim! Ouço ainda dois Fatboy Slim, os dois que mais venderam. Como parecem hoje? Divertidos. E ao mesmo tempo, como todos os outros, têm momentos de chatice braba. Chemical Brothers com exit planet e dig your own hole...em 1997 pareciam tão modernos, tão surpreendentes. Hoje são apenas uma vaga lembrança de um doce que voce engoliu e esqueceu. Não é entediante não, é apenas inútil. Estranho eu usar essa palavra, mas parece inútil. É como um carro que não anda mais. E por fim Prodigy, os melhores da época. E ainda os melhores em 2022. Porque parecem punk e não eletro. A sonoridade "moderna" não diz mais nada, mas os vocais e a atitude ainda são impressionantes. Junto à Stereo MCs, são os únicos que parecem ter tripas guts, e por isso respiram, chutam e pulam, ainda. ---------------------- Ouvi Autobahn do Kraftwerk também. Beach Boys misturado à rock alemão. É outro mundo, é o mundo onde apenas o Kraftwerk existe. Incomparável.