DENNIS LEHANE E NELSON RODRIGUES

Nós somos um puxadinho do Partido Democrata dos USA. Toda nossa lacração é cópia, servil, do que os democratas fazem por lá. De um modo pobre, aculturado, ogro, nosso funk é xerox ridículo da cultura do rap de Miami. Nossas pautas esquerdistas, aborto, trans, drogas, é a mesma do Partido de lá. Até a invasão fajuta do Capitólio nós imitamos, até as datas são quase a mesma ( lá dia 5, aqui dia 8 ). A diferença é que os USA possuem ainda um STF isento e um Partido Republicano que garante alguma racionalidade. Se voce usar quatro neurônios vai perceber que a diferença entre os dois partidos é a razão. Os Republicanos se apoiam na tradição da lógica e os Democratas viajam na maionese todo o tempo. Infelizmente aqui não temos tradição nenhuma lógica, então nos úmtimos 30 anos o Brasil é um hospício onde os ladrões tomaram o poder. Mas cara, porque voce está falando isso? Explico. ---------------------- Lehane é o típico irlandês americano de Boston. Sobre Meninos e Lobos virou filme do Clint. Este livro, Coronado, tem alguns contos e uma peça de teatro. O clima é aquele, frio, raivoso, ressentido, pubs e crimes. A linguagem é aquela dos USA branco atual: crispada, seca, objetiva, com gosto de cerveja forte. Gelada. Mal se percebe algum laço familiar quente. Okay? O que acontece é que um brasileiro, que nada tem a ver com essa merda, tenta hoje escrever desse jeito. E pior, viver desse modo. A vida de gangue. A vida de briga. A frieza do sexo sem sentimento algum, apenas a vontade de ejacular. A droga. ------------------------- Nelson Rodrigues é o Brasil antigo, o de 1950, ano em que meu pai chegou por aqui. Tudo em Nelson é paixão. É quente. Ódio, inveja, desejo de posse, tesão, raiva, pecado, muito pecado. As peles escorrem suor. A linguagem faz com que a gente sinta o cheiro dos corpos. Os homens são machos egoístas ou gays disfarçados. Cornos todos o são. As mulheres têm bundas fartas e todas são putas em potencial ou em realidade. Mentem, todos mentem, para si mesmo ou para o mundo. A realidade brasileira está toda alí. A do feijão. Do ônibus. Do batom. Do trabalho ao sol de 40 graus. O bigode. As lorotas. Nelson escreve breve e fácil e sempre como só no Brasil é possível. Não é porutuguês de Portugal. Não é português que tenta parecer cool ( inglês ). É a língua do Rio de então, a língua da classe média de Copacabana. ---------------------- Isso se perdeu neste século. Não há Brasil nos livros e menos ainda no cinema, TV, música. Há uma produção cultural que cria o artificial. Uma favela de gangue de Los Angeles, uma rua de bazar de Miami, sexo como em pornô made in NY. Nossa produção não cheira porque nossa rua, nossa vida se tornou UMA FALSIDADE. Somos um sub puxadinho de Oakland USA. Nossa prosa parece tradução do inglês. --------------------- Nelson seria cancelado hoje. Completamente. Ele era reacionàrio. Um conservador perto dele parece um liberal. Dificilmente ele conseguiria publicar. E emprego em jornal, esquece. Suas peças e textos estão desaparecendo da midia. E quando são levadas a cena se foca apenas no sexo e não na moralidade do autor. Tenta se esconder seu partido. ------------------- Me pego rindo ao ler Nelson. Rindo muito. Ele faz algo difícil de se conseguir, mergulha tão fundo no drama, no patético, que a dor se torna ridícula e brota o paroxismo do humor. Surge o tal brasileiro, ser que não existe mais. O brasileiro, um caldo de vaidade, medo, insegurança, malandragem e prosa rica. O mundo de Caymmi, Cartola, Moreira da Silva e Garrincha. Nelson Gonçalves e Cauby. Zé Trindade e Costinha. Chacrinha e Ary Barroso. Gente que só no Brasil poderia existir. ---------------------- Nelson só existe aqui. E aqui agora não tem linguagem própria e sem isso nada parece único, só possível por aqui. Morou?