GNARLS BARKLEY - ST. ELSEWHERE

Cee Lo tem uma voz maravilhosa. Ele não canta soul, ele é puro gospel. Danger Mouse é veloz. Seu ritmo é acelerado e os timbres procuram a originalidade. O que mais me enjoa na música eletrônica são seus timbres. Acho um crime ver gente lidando com aparelhagem que possibilita milhôes de timbres, usarem sempre o mesmo velho som padronizado. 99% dos discos que usam sons digitais possuem uma espécie de sonoridade que nunca muda. O 1% restante eu adoro. Danger Mouse busca sons diferentes. Mistura graves e agudos, tons atonais e acelerações súbitas, e a voz de Cee Lo combina maravilhosamente. O disco foi sucesso imenso em 2009. Merecido. Fui formado na escola Brian Eno. E Eno, no tempo em que ele era Eno, buscava de forma obssessiva o tom exato, úncio, perfeito. Eno brincava com sons. Seu synth no Roxy parecia um pernilongo psicótico. Produzindo o Devo, ele lhes dava um estranho som de brinquedo. O Ultravox era luxuoso, sons de violinos de vidro. Nos Talking Heads ele botou sons elétricos usado de forma percussiva. E em seu trabalho solo ele nunca parou de tentar soar como ele mesmo. Eno em nada se parecia com Kraftwerk. Que nada tinha de Giorgio Moroder, que em nada lembrava Gary Numan ou Jarre. Então com o U2 Eno se acomodou no timbre "ventania". Estagnou. Danger Mouse não usa nenhum desses timbres citados. Ele não tenta parecer vintage. Assume o som digital de 2009. Muita gente hoje tenta soar analógico. Como muita guitarra tenta parecer valvulada. Não enganam. Muito melhor explorar o limite do som digital. Não há nada pior que grupo de teens tentando lembrar o Depeche Mode.