OS NEW ROMANTIC E SUA OBRA PRIMA: AVALON, DISCO DO ROXY MUSIC DE 1982.

Toda ação tem sua reação, e em 1981 a Inglaterra, para reagir ao pessimismo violento dos punks, criou o new romantic ( mas não só ele ). Politicamente conservadores, fantasiosos e em eterno estado de festa, eles colocavam o estilo acima da substância. John Taylor, o excelente baixista do Duran Duran, dizia que suas calças eram muito mais importantes no palco que o modo como ele tocava. ( E eu, crescido nesse meio, ainda fico chocado com calças sem estilo num palco de rock ). Na realidade o que eles eram: fãs do Bowie pós 1974, de Marc Bolan e de Bryan Ferry. Misturaram o som dos três com beats disco music e climas Kraftwerk e voilá! Eis o new romantic. -------------- Visage com The Anvil e Ultravox com Vienna talvez sejam os mais representativos discos do movimento. Ambos são ótimos, mas Avalon, do Roxy, é a obra prima da coisa toda. Único caso em que a influência produziu algo mais moderno que a própria cria. Isso porque Ferry e seus amigos entenderam que o new romantic almejava ser Young Americans e não Low. Avalon é soul music branca, funk gelado, modernismo contido, e acima de tudo é luxo explícito. É o chique assumido no rock. É o pico do estilo. E nos anos 80, é a cartilha de tudo de classudo feito após 1982. ------------ É um disco, então tudo isso está no som e não numa calça. Lembro quando o escutei pela primeira vez. Senti algo novo alí e a novidade não era a invenção, não era um novo tipo de composição, a novidade era o estilo. Belas canções pop embaladas em seda. E a seda era a mixagem. Rhett Davies e Bob Clearmountain, cada um em seu campo. Rhett vindo da escola Fripp e Eno de som, ou seja, teclados embrulhando guitarras, gelo nos amplificadores, e Bob vindo do sucesso da mixagem da bateria de Start me Up dos Stones. Bob mixaria, por toda década, todo disco com som de bateria no talo, Born in The USA é obra dele também. --------------- Avalon é isso: um emaranhado de percussão e bateria, sutil, volumoso, angular, com um contra baixo que rege o todo. Na época eu nunca escutara baixo e bateria tão bem mixados. Acho que ainda não ouvi. A guitarra, o sax, a voz, o teclado, existem em função do baixo, rodeiam sua linha, nunca comandam. E do que fala Avalon? Amor e só amor. Punks não falam dele. Punks odeiam ( era o que se dizia ). Os new romantics amam. Tudo se resume a um casal. O resto é distração. ------------- To Turn me On exemplifica o disco inteiro. Eis o baixo à la Chic- Bernard Edwards ( o baixo aqui é Alan Spenner ). A voz de Ferry em seu auge e um solo de Manzanera que não pode ser melhorado. Acordes de um grande piano que é imenso e a volta do baixo que pontua e dialoga. Obra prima. -------------- Lembro de a escutar no carro, madrugada de chuva, novembro de 1984, apaixonado......não há como ser mais feliz que isso. O final da canção brilha como miragem inalcansável. O cume do estilo. ---------------- Ouvir Avalon em 2021 é estranho. Ele está tão distante de nosso mundo atual como Mozart está. Fala de uma sensibilidade e de valores perdidos. Hoje o estilo se chama escândalo e a sensibilidade é a do histerismo. Falo como velho? Eu o sou baby. Sou do tempo de Avalon. Tenho uns 97 anos de idade...