Coisa maravilhosa tem acontecido nos últimos anos ( fato notado por Roger Ebbert ): toda uma geração de cinéfilos é criada pelo dvd. Filmes impossíveis de serem vistos se tornaram acessíveis e melhor, filmes clássicos, que tinham uma imagem deteriorada, hoje podem ser assistidos em imagem brilhante, graças a reconstituição para dvd. É o renascimento do cinema dos anos 20/30, filmes deteriorados sendo vistos hoje com sua beleza original.
Numa aula de linguística, quando é citado Bernard Shaw, me surpreendo com a quantidade de pessoas que viram MY FAIR LADY. Metade da turma. Filmes antes desbotados, hoje belíssimos.
ACONTECEU NAQUELA NOITE foi o primeiro filme a ganhar Oscars principais: filme, direção, roteiro, ator e atriz. Só quase 60 anos depois, com SILENCIO DOS INOCENTES, isso foi repetido. O filme de Capra venceu em 1934, e bateu uma concorrencia muuuuito forte. Revisto hoje, esta comédia romantica, mostra todo seu frescor, e, ao lado de LEVADA DA BRECA, é ainda o objetivo, o ápice, o everest, de toda comédia que trata de relações entre homem e mulher. Robert Riskin, o grande roteirista, criou a estrada, os outros a seguiram.
Claudette Colbert é uma rica herdeira que escapa do pai para se casar. Um jornalista durão, Clarck Gable, a ajuda sem saber quem ela é. Falando de forma bem simplificada, o filme é isso. Mas Capra, gênio que é, recheia o filme de dúzias de idéias. Não há uma só cena menos que boa, é um filme perfeito.
Vemos então a América da depressão, com seus tipos "do povo", tentando sobreviver. Ao mesmo tempo há uma gozação aos ricaços. O filme é também documentário sobre momento decisivo de um país. Comédia sempre, mas também aventura, drama, caixa de surpresas e nunca, jamais, óbvio. Alegre, feliz.
Os gregos acreditavam que a primeira função da arte é o prazer. Depois o pensamento e a união de ideais. Prazer. Para quem entende um pouco de arte, para quem já se deixou impressionar pela arte engajada, pela arte masoquista ou pela arte abstrata, o prazer acaba se revelando o valor mais sólido, aquilo que ao final, faz com que algo sobreviva. Mas entenda, não confunda prazer com superficialidade ou escapismo. Não seja tão jeca. Há prazer estético em Bergman e em Shakespeare. E há também a tal profundidade sofrida nos dois. Mas o prazer é acima de tudo o que rege sua fruição. Em Bergman e em Shakespeare, mesmo nos mais duros momentos, há sempre o prazer estético, a beleza, o dom de se saber fazer. E mais: o sofrimento jamais é gratuito.
Hoje há uma imensa massa de seres que pensam a arte como dever, como sofrimento, como masoquismo. Meu mais sincero desprezo a esses jecas do gosto. Como dizia Paulo Francis, são os caipiras que sofrem vendo Strindberg e pensam ser essa a tal cultura superior. Blá!
Voltando.... poucos filmes mostram de forma tão sublime o nascimento do amor. Amor real, que brota da diferença entre ele e ela. Gable mostra todo o verdadeiro charme viril de um homem que sabe se virar, e Claudette é a dondoca que cresce e descobre a vida. Ônibus, estradas, motéis... as cenas vão se sucedendo e algumas são clássicas ( a canção no´ônibos, a carona na estrada, o cobertor entre as camas ), o porque de ninguém conseguir mais fazer uma história assim depõe contra nosso cinema moderninho. Perto deste filme, as tolices de Kate Hudson ou de Reese Witherspoon são vergonhosas.
No seu final, as coisas se resolvem de forma graciosa, certa, leve e sem forçar a mão. Aliás nada parece forçado.
Um toque final sobre os atores. É fácil gostar deles. E é esse o maior mistério do cinema romantico. Ele funciona na proporção do quanto se gosta de seus personagens. Os dois aqui são amáveis. Os gregos estavam certos. Por mais que Haneke, Trier ou que tais reafirmem que a arte é para masoquistas, a arte é um prazer. Saber ter prazer, eis o anti-jequismo.
Numa aula de linguística, quando é citado Bernard Shaw, me surpreendo com a quantidade de pessoas que viram MY FAIR LADY. Metade da turma. Filmes antes desbotados, hoje belíssimos.
ACONTECEU NAQUELA NOITE foi o primeiro filme a ganhar Oscars principais: filme, direção, roteiro, ator e atriz. Só quase 60 anos depois, com SILENCIO DOS INOCENTES, isso foi repetido. O filme de Capra venceu em 1934, e bateu uma concorrencia muuuuito forte. Revisto hoje, esta comédia romantica, mostra todo seu frescor, e, ao lado de LEVADA DA BRECA, é ainda o objetivo, o ápice, o everest, de toda comédia que trata de relações entre homem e mulher. Robert Riskin, o grande roteirista, criou a estrada, os outros a seguiram.
Claudette Colbert é uma rica herdeira que escapa do pai para se casar. Um jornalista durão, Clarck Gable, a ajuda sem saber quem ela é. Falando de forma bem simplificada, o filme é isso. Mas Capra, gênio que é, recheia o filme de dúzias de idéias. Não há uma só cena menos que boa, é um filme perfeito.
Vemos então a América da depressão, com seus tipos "do povo", tentando sobreviver. Ao mesmo tempo há uma gozação aos ricaços. O filme é também documentário sobre momento decisivo de um país. Comédia sempre, mas também aventura, drama, caixa de surpresas e nunca, jamais, óbvio. Alegre, feliz.
Os gregos acreditavam que a primeira função da arte é o prazer. Depois o pensamento e a união de ideais. Prazer. Para quem entende um pouco de arte, para quem já se deixou impressionar pela arte engajada, pela arte masoquista ou pela arte abstrata, o prazer acaba se revelando o valor mais sólido, aquilo que ao final, faz com que algo sobreviva. Mas entenda, não confunda prazer com superficialidade ou escapismo. Não seja tão jeca. Há prazer estético em Bergman e em Shakespeare. E há também a tal profundidade sofrida nos dois. Mas o prazer é acima de tudo o que rege sua fruição. Em Bergman e em Shakespeare, mesmo nos mais duros momentos, há sempre o prazer estético, a beleza, o dom de se saber fazer. E mais: o sofrimento jamais é gratuito.
Hoje há uma imensa massa de seres que pensam a arte como dever, como sofrimento, como masoquismo. Meu mais sincero desprezo a esses jecas do gosto. Como dizia Paulo Francis, são os caipiras que sofrem vendo Strindberg e pensam ser essa a tal cultura superior. Blá!
Voltando.... poucos filmes mostram de forma tão sublime o nascimento do amor. Amor real, que brota da diferença entre ele e ela. Gable mostra todo o verdadeiro charme viril de um homem que sabe se virar, e Claudette é a dondoca que cresce e descobre a vida. Ônibus, estradas, motéis... as cenas vão se sucedendo e algumas são clássicas ( a canção no´ônibos, a carona na estrada, o cobertor entre as camas ), o porque de ninguém conseguir mais fazer uma história assim depõe contra nosso cinema moderninho. Perto deste filme, as tolices de Kate Hudson ou de Reese Witherspoon são vergonhosas.
No seu final, as coisas se resolvem de forma graciosa, certa, leve e sem forçar a mão. Aliás nada parece forçado.
Um toque final sobre os atores. É fácil gostar deles. E é esse o maior mistério do cinema romantico. Ele funciona na proporção do quanto se gosta de seus personagens. Os dois aqui são amáveis. Os gregos estavam certos. Por mais que Haneke, Trier ou que tais reafirmem que a arte é para masoquistas, a arte é um prazer. Saber ter prazer, eis o anti-jequismo.