Em 1977 tivemos o punk, com seu ódio a Yes/ Floyd e Led. Mas quem ouviu Sex Pistols e Clash sabe : punk era/é rocknroll. São guitarras altas e vocal macho cuspindo rebeldia sincera ou não. A turma da velha-guarda ( que tinha só 28/30 anos ) se ressentia do punk, mas o entendia.
Em 1977 tivemos a disco music e aí é que a coisa pegou. Em todos esses anos eu nunca mais ví nada em música ser tão odiado. Nem funkdorio ou axé foi tão perseguido pelos "inteligentes" roqueiros sinceros. Queimavam-se discos de discoteque em estádios, faziam-se protestos, festas anti-disco, discos contra a música dançante.
Porque ?
Eu lembro que adorava Led/Stones e Rod. Portanto deveria odiar a disco. Mas eu sentia que alguma coisa não estava certa. Algumas músicas eram muito boas e era tudo tão divertido ! Demorou para que eu percebesse o que se passava : o libertário e jovem rocknroll se aburguesara. Ele odiava a disco por ser coisa de preto/pobre/gay e inculto. Tudo era preconceito.
Rock era guitarra e dor. Disco era ritmo ( feito por montes de instrumentos ) e prazer.
Rock era branco e inteligente. Disco era mestiço e alienado ( era ? )
Rock cantava desejo como violencia e machismo. Disco cantava desejo como frescura e festa.
E o principal : pela primeira vez surgia uma música pop e jovem que não era filha dos velhos caras do blues e do folk, ela nascia do gueto chicano, da favela do Harlem, de Miami. Toda a raiva roqueira era a raiva do filho mais velho que vê o irmão caçula ignorá-lo. Ao contrário dos punks, que ao "odiar" o rock lhe davam valor, a disco ignorava-os.
Assiti o filme de John Badham oito vezes no cinema. Matando aula com amigos no Gazeta ( devo ser do tempo de Ramsés...fomos de carona !!!! Pedíamos carona na rua, e conseguíamos ! ) com minha mãe no Cal-Center, no Iguatemi sózinho, com os mesmos amigos no Gazetão.... cheguei a decorar os diálogos e na sala as pessoas se levantavam e dançavam durante as cenas de dança.
Sim, eu sabia todos os passos e cheguei a ter meu colete branco, a calça com vinco, o paletó de lapelas largas, a corrente de ouro no peito de camisa aberta... Ficava horas me preparando para sair. E com o cabelão de fã do Led Zeppelin !!!!!
Porque eu tinha esse problema : via o filme de Travolta oito vezes mas continuava ouvindo Sabbath e Johnny Winter. E detestava o conformista John Travolta, o moleque que destronara Steve McQueen, Redford e Pacino.
O sucesso de filme e disco foi avassalador. Durante dois anos só se falava nisso. Os críticos ignoraram tudo. Na época crítica e bilheteria eram coisas distintas. Hoje o filme seria indicado a prêmios e levado a sério. Na época não. Filme pop tinha de ser filme ruim.
E música pop tinha de ser lixo. Será ?
Em 1980 já falavam que a disco estava morta e esquecida. Mas penso em Madonna, Michael Jackson e Prince. Eles tinham o visual e a sexualidade de Sylvester, Jimmy Bo Horne e esse inacreditável Rick James. E vieram os Mantronix, Duran Duran, e depois a onda pop do final dos anos 80 com Soul to Soul e C and C Music Factory. E mais..... Rick Astley, Dee Lite....
Quem me lê sabe que não consigo seguir as "novas" bandas. Tudo o que vem do pós-punk, new folk, psicodelismo, indie, etc me dá um sono danado. É música boa pra quem tem menos de 25 anos, quem começa agora a ouvir rock. É a música de guitarra/baixo e batera de sempre.
Mas a linha evolutiva que vem do funk, do som da Philadelphia e da disco, da disco de New York com seu baixo pesado e seus vocais gritados, da euro-disco, cheia de synths e de vocal gelado, isso ainda me interessa. São os caras que adoram a paixão viril do rock ( quando há ) mas são também seduzidos pela doce sensualidade hermafrodita da discoteque.
O filme é muito melhor do que voce pensa. E Travolta está excelente. Mostra-se o mundo pobre de NY. Gente sem governo, sem país e sem família funcional. E que joga tudo pra fora sendo um rei numa pista de dança. O filme mostra então o nascimento de uma cultura de club que existe e existirá ainda por muito tempo. Mais vaidosa, mais hedonista que a de hoje. Menos deprimida e mais pobre. Feliz.
SATURDAY NIGHT FEVER é dos meus filmes "calcanhar de aquiles". Filmes que adoramos mesmo sabendo que tanta gente "culta" os despreza. Filmes como UM TIRO NO ESCURO, PRIMAVERA PARA HITLER, VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, GOLDFINGER ou DURO DE MATAR.
Eu adoro SATURDAY NIGHT FEVER. Adoro Travolta e adoro até os BEE GEES. Parte de mim está lá. E talvez seja a melhor parte.
Em 1977 tivemos a disco music e aí é que a coisa pegou. Em todos esses anos eu nunca mais ví nada em música ser tão odiado. Nem funkdorio ou axé foi tão perseguido pelos "inteligentes" roqueiros sinceros. Queimavam-se discos de discoteque em estádios, faziam-se protestos, festas anti-disco, discos contra a música dançante.
Porque ?
Eu lembro que adorava Led/Stones e Rod. Portanto deveria odiar a disco. Mas eu sentia que alguma coisa não estava certa. Algumas músicas eram muito boas e era tudo tão divertido ! Demorou para que eu percebesse o que se passava : o libertário e jovem rocknroll se aburguesara. Ele odiava a disco por ser coisa de preto/pobre/gay e inculto. Tudo era preconceito.
Rock era guitarra e dor. Disco era ritmo ( feito por montes de instrumentos ) e prazer.
Rock era branco e inteligente. Disco era mestiço e alienado ( era ? )
Rock cantava desejo como violencia e machismo. Disco cantava desejo como frescura e festa.
E o principal : pela primeira vez surgia uma música pop e jovem que não era filha dos velhos caras do blues e do folk, ela nascia do gueto chicano, da favela do Harlem, de Miami. Toda a raiva roqueira era a raiva do filho mais velho que vê o irmão caçula ignorá-lo. Ao contrário dos punks, que ao "odiar" o rock lhe davam valor, a disco ignorava-os.
Assiti o filme de John Badham oito vezes no cinema. Matando aula com amigos no Gazeta ( devo ser do tempo de Ramsés...fomos de carona !!!! Pedíamos carona na rua, e conseguíamos ! ) com minha mãe no Cal-Center, no Iguatemi sózinho, com os mesmos amigos no Gazetão.... cheguei a decorar os diálogos e na sala as pessoas se levantavam e dançavam durante as cenas de dança.
Sim, eu sabia todos os passos e cheguei a ter meu colete branco, a calça com vinco, o paletó de lapelas largas, a corrente de ouro no peito de camisa aberta... Ficava horas me preparando para sair. E com o cabelão de fã do Led Zeppelin !!!!!
Porque eu tinha esse problema : via o filme de Travolta oito vezes mas continuava ouvindo Sabbath e Johnny Winter. E detestava o conformista John Travolta, o moleque que destronara Steve McQueen, Redford e Pacino.
O sucesso de filme e disco foi avassalador. Durante dois anos só se falava nisso. Os críticos ignoraram tudo. Na época crítica e bilheteria eram coisas distintas. Hoje o filme seria indicado a prêmios e levado a sério. Na época não. Filme pop tinha de ser filme ruim.
E música pop tinha de ser lixo. Será ?
Em 1980 já falavam que a disco estava morta e esquecida. Mas penso em Madonna, Michael Jackson e Prince. Eles tinham o visual e a sexualidade de Sylvester, Jimmy Bo Horne e esse inacreditável Rick James. E vieram os Mantronix, Duran Duran, e depois a onda pop do final dos anos 80 com Soul to Soul e C and C Music Factory. E mais..... Rick Astley, Dee Lite....
Quem me lê sabe que não consigo seguir as "novas" bandas. Tudo o que vem do pós-punk, new folk, psicodelismo, indie, etc me dá um sono danado. É música boa pra quem tem menos de 25 anos, quem começa agora a ouvir rock. É a música de guitarra/baixo e batera de sempre.
Mas a linha evolutiva que vem do funk, do som da Philadelphia e da disco, da disco de New York com seu baixo pesado e seus vocais gritados, da euro-disco, cheia de synths e de vocal gelado, isso ainda me interessa. São os caras que adoram a paixão viril do rock ( quando há ) mas são também seduzidos pela doce sensualidade hermafrodita da discoteque.
O filme é muito melhor do que voce pensa. E Travolta está excelente. Mostra-se o mundo pobre de NY. Gente sem governo, sem país e sem família funcional. E que joga tudo pra fora sendo um rei numa pista de dança. O filme mostra então o nascimento de uma cultura de club que existe e existirá ainda por muito tempo. Mais vaidosa, mais hedonista que a de hoje. Menos deprimida e mais pobre. Feliz.
SATURDAY NIGHT FEVER é dos meus filmes "calcanhar de aquiles". Filmes que adoramos mesmo sabendo que tanta gente "culta" os despreza. Filmes como UM TIRO NO ESCURO, PRIMAVERA PARA HITLER, VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, GOLDFINGER ou DURO DE MATAR.
Eu adoro SATURDAY NIGHT FEVER. Adoro Travolta e adoro até os BEE GEES. Parte de mim está lá. E talvez seja a melhor parte.