MAX PERKINS, UM EDITOR DE GÊNIOS - A. SCOTT BERG

   As primeiras 150 páginas deste livro são fascinantes. O autor conta a história das duas famílias que se uniram para formar Max Perkins. Depois se fala sobre seu casamento e o começo de sua carreira na Scribners. Mas, lá pela página 200, voce começa a se sentir muito, muito cansado. Por um motivo simples: a própria vida de Max caiu numa repetição cansativa. Ele jamais deixou de amar aquilo que fazia, mas ao mesmo tempo, destruiu sua saúde pela repetição mecânica de seu trabalho. Editar gente como Thomas Wolfe ou Scott Fitzgerald era desesperador.
  O trio principal da editora era Wolfe, Scott e Heminguay. 90% do livro fala deles, e eu queria que se falasse mais dos outros autores. Dentre os 3, a maior parte é dedicada a Thomas Wolfe, e Thomas é um porre!
  Eu li Thomas Wolfe anos atrás e pra mim ele era um completo maluco. Max Perkins teve de pegar manuscritos de mais de 1000 páginas, incoerentes, caóticos, e dar um jeito de transformar aquilo em algo legível. Sem Max, o livro não diz isso, mas nós notamos, Thomas Wolfe não existiria. Abusivo, ele privou da casa e da comida de Max, irritou seus amigos, destruiu seus nervos.
  Fitzgerald lhe deu outro tipo de trabalho. Scott foi um autor que se tornou rico e famoso aos 23 anos. E isso acabou com ele. Ele tinha um dom refinado e um texto belíssimo, mas não aceitava o fato de estar ficando "velho". Como acontece com todo rock star hoje, ele não queria que a beleza e a alegria de seus 23 anos morressem. Sua esposa Zelda, completamente doida, era um peso em sua vida, e fraco de saúde, Scott era um poço de medo. Se afundou na bebida. Max o ajudava lhe dando dinheiro, confiança, fé.
  Já Heminguay era o oposto dos dois citados acima. O texto já vinha quase pronto, era hiper ativo, confiante, e o único problema que ele dava a Max era de censura. Perkins tinha de refrear sua agressividade e cortar palavrões em seu texto. Foi o único que sobreviveu à Max Perkins. Wolfe morreu de tuberculose cerebral ainda jovem. Scott morreu no começo dos anos 40 de infarto. Max Perkins morreria em 1946, aos sessenta e poucos anos. Literalmente de cansaço.
   Nós não temos a tradição americana de editor. Aqui um editor lê o texto, julga e corrige erros de gramática. Lá, um editor dá ideias, rumos, corta capítulos inteiros, elimina personagens. Faz uma parceria com o autor. Ajuda, empurra, ampara. Este livro é uma enorme história de amor. Max, que teve 5 filhas, via em cada escritor um filho. Wolfe foi o filho rebelde, Scott o filho frágil e Heminguay o valentão. Max Perkins era um pai dedicado, protetor, paciente, um gigante.
  Leia este livro se voce gosta muito de livros.
  A. Scott Berg tem um texto claro e objetivo, consegue fazer com que amemos Perkins sem jogar confete nele. Apenas descrevendo seu trabalho duro e exigente.