ARTHUR RUBINSTEIN

O toque no teclado de Rubinstein é diferente de qualquer outro. Com ele nós podemos ouvir algo que vem do tempo passado, vivo, porém distante. Ouvir o toque de seus dedos é testemunhar um som que vem do império austro-húngaro, da Polonia pré comunismo, dos cafés de antes da eletricidade. Rubinstein viveu muito, foi centenário, e suas gravações são heranças. Ele tira notas tão suaves que sentimos que elas quase inexistem, como se pudessem emudecer antes mesmo de soar. O piano em suas mãos é o piano de tempos de silêncio. ---------------- Não sei se ele foi melhor que Horowitz ou que Richter. Não toco o instrumento e portanto não tenho como saber. Mas possuo bons ouvidos e seu timbre é mais delicado que qualquer outro. Para Chopin não há igual. Chopin? Preciso falar de Chopin? O compositor polonês tem uma maldição: as pessoas o conhecem sem o conhecer. Imaginam o estereótipo do romântico choroso, quando na verdade ele foi muito mais que isso. Chopin criou enfim, o piano como o conhecemos, o instrumento da alma. O mais expressivo e o mais livre. Ele é o mais dificil de ser tocado, o mais complexo e o mais desafiador. É fácil destruir sua arte numa execução ruim, mas quando bem tocado ele alça voo. Sofrido, melancólico, fatalista, mesmo que voce não saiba, o molde de seu artista sofredor está aqui. Porém ele cria, cria beleza sem parar. Produção imensa em poucos anos de vida, Chopin é, após Beethoven, o mais gravado dos mestres. ---------------------- Rubinstein é um homem que ainda pode sentir a alma de Chopin próxima de si. Ouvir é um provilégio.