BERCEUSE- CHOPIN POR MAURIZIO POLLINI.

Pela cortina, atráves do tecido branco. Meio dia, sol. Uma abelha. Água em um copo. Vidro. Não, nada disso! Outro tempo: Matando aula, estou na rua. Sento no meio fio. O suor gruda nos meus cabelos ( Meus cabelos! Deus! Eu fui um adolescente de longos cabelos românticos! Vejo em fotos: eu era bonito... ). Continuo: Sentado no meio fio são três da tarde. Um sobrado ao lado, todo branco. O quarto, lá no alto. Tem uma cortina branca. Voa ao vento da tarde. Alguém lá dentro toca piano. Estranho! Não sei se era um disco. Não sei se era um pianista ou uma mulher. Mas era ela. Sempre foi. Então eu ouço. E o sinal do intervalo toca na escola, a minha, lá no fim da rua onde estou. Gritos de crianças abafam o piano. Me ergo e vou pra casa. Eu sei que ela está agora comendo seu lanche. Com sol nos cabelos. E as mãos, distraídas, passam pela boca que mastiga. Camisa branca. O tempo se foi e eu estou de volta à mesma escola. E aquele sobrado ainda existe. Mas não ela. O amor agora é outro. E a escola, aquela, apagou seu restro dentro de mim. ----------------- Ouvir esta música é tudo isto. E é mais ainda. Chopin era uma afirmação da alma diante da matéria. Sua música é uma prece. Arabescos. Cascatas de notas. Cristais. Cenas de Max Ophuls. Preciosos momentos. Pollini, um grande, está a altura da missão. A música é a mais abstrata das artes. Construção invísivel de inefabilidades impossíveis. E duram. A ferramenta é o tempo. ---------------- Postarei o viedo de um menino indiano. Seu sorriso é isto.