DINU LIPATTI TOCA CHOPIN
Dinu Lipatti, embora não tenha 10% da fama de Rubinstein ou de Horowitz, é chamado de pianista dos pianistas. Ouço um cd com 16 valsas de Chopin, e como tenho aprendido muito a escutar, percebo onde vive sua arte. -------------- Chopin é o mais dificil dos autores para piano. Além de requerer técnica para ser tocado, ele oferece uma armadilha, a ênfase exagerada no sentimento. Pianistas estrelas tendem a usar Chopin para se exibir. Ou aceleram demais para mostrar o quanto são técnicos, ou pisam no freio, a fim de exibir seus sentimentos romanticos. Chopin é romantico mas nunca fraco e é difícil de tocar, mas jamais exibicionista. A maestria do polonês vive em sua escrita, na originalidade de suas peças. Chopin é maravilhosamente criativo. Ele não cansa. Não enjoa. Não parece se repetir. O Chopin que parece sempre o mesmo, assim o parece por arte de executantes que o reduzem a floreios e dedilhados. Megulhar em Chopin é mergulhar no sempre novo. E isso é o que Dinu Lipatti nos mostra. -------------------- Ele não floreia. Ele dá a amplidão da estrutura. É Chopin no osso. Nos nervos. Um raio X do autor. Como fez, de forma mais radical, Glenn Gould com Bach, Lipatti toda Chopin ao pé da letra. É Chopin tocando o que Chopin nos deixou. Nada a mais, e nada de menos. -------------- Dinui Lipatti foi um fenêmono romeno que tomou o piano e se fez estrela. Mas morreu muito, muito cedo, em 1950, de leucemia. Tinha 33 anos. Tivesse vivido tanto quanto Rubinstein ou Horowitz, teria gravado até os anos de 1990. O que ficou dele é pouco e é o bastante. Nada a mais. Inclusive sua vida.