AZEITONAS - MORT ROSENBLUM

Mais que falar sobre o fruto sagrado, o que há de melhor neste livro é nos abrir a mente para a cultura do mediterrâneo. Há uma raiz, uma identidade em comum entre Espanha, sul da França, Itália, Grécia, Turquia, Croácia, Tunisia, Marrocos, Israel e Palestina. Inclui-se também Portugal e Chipre. Essa cultura, antiga como o Velho Testamento, se caracteriza pelo vinho, pelo pão, pelo amor ao sol e pelo culto à oliveira. Não exsite vida, como a conhecemos, nessa nações, sem o azeite, sem a azeitona, sem a árvore que para eles simboliza o espírito do Homem. ------------ Pois é a oliveira uma árvore indestrutível. Ela pode ser congelada na neve, esmagada por deslizamentos, queimada pelo fogo e mesmo assim renascerá. Voce pode cortar todos os seus galhos, serrar seu caule, ela irá brotar mais uma vez. Ela parecerá morta, mas a raiz, essa permanece. E volta a subir à luz da superfície. Oliveiras em Israel do tempo de Cristo. Oliveiras na Grécia do tempo de Aristóteles. Oliveiras na Espanha plantadas pelos romanos de César. Oliveiras do meu avô que estão lá desde sempre. -------------- Minha família, por parte de mãe, tinha oliveiras em Portugal. Ler estas histórias é para mim rememorar tudo que ouvi. Minha mãe, aos 8 anos, já ia colher as azeitonas no inverno gelado. As mãos congeladas agarrando os galhos para tirar os frutos. Essa imagem me persegue desde que nasci: O Tempo das Azeitonas. Só quem é de família desses lugares sabe como a oliveira é central para esses povos. Eles amam, servem, comem, vivem por e para elas. Não há no planeta nenhuma árvore tão central. ------------- Azeite para iluminar. Azeite para revitalizar a pele. Sabão de azeite. Azeite no pão, na sopa, na carne e na verdura. Azeite no doce, no peixe, na ave, no legume. Em casa tudo levava azeite. Não ter azeite era ser a pessoa mais pobre do mundo. Azeite no feijão, no arroz, beber azeite. Vida em forma de alimento. História que tem sabor. Quente, macio, vivo. Citado na Bíblia, na Ilíada, no Corão. Sempre sagrado: azeite e pão. Aldous Huxley disse: " As raízes penetram a rocha, abrem caminho, trazem a vida...eu amo todas as árvores, mas nada se compara a força da oliveira". ---------------- Voltando a Portugal, em 2016, minha mãe chorou por ver que suas oliveiras haviam sido todas arrancadas. ( Único modo de matar uma delas: arrancar a raiz central ). Vejo naquilo que minha mãe a prova viva do que este livro diz: Quando arrancam uma oliveira é arrancada a raiz de quem lá vive. Minha mãe não quer mais voltar à sua terra. Não é mais sua, as raízes foram retiradas. ------------ Na Palestina quando Israel desaloja uma comunidade arranca as oliveiras e planta novas. Eu entendo isso. Vi aqui em casa. ---------------- Agora, por ordem de Bruxelas, plantam milhares de oliveiras em Portugal. Decidiram que Portugal será produtor de azeite e só de azeite. Derrubam castanheiros, nogueiras, cortiças, uvas e pessegueiros, tudo será oliveiras. Mas ninguém as ama. São raízes estrangeiras. São impostas. Pior: o azeite será vendido como made in Italy. ( Sim, 80% do azeite vendido como italiano não vem da Itália ). ---------------- Vinho...o vinho é diferente. Embora tão velho como o azeite, ele virou moda desde a muito. Não é mais uma tradição de famílias, de todas as famílias do campo ao redor do Mediterrâneo. Perdeu sua alma. A azeitona manteve seu aspecto familiar, simbólico, sagrado. Até quando? Até quando houver barris de azeitonas em mercados de rua. Oliveiras em propriedades simples, onde se faz o azeite da casa. Árvores com centenas de anos. Velhos colhendo a mão na geada de dezembro. A união do mundo do sul da Europa com o passado-futuro árabe do continente. Mundo de sol, de instrumentos de corda, do mar sempre presente, de longas conversas sobre comida.