THE BELLE ALBUM- AL GREEN

   Ao olhar a obra de Al Green, normalmente as pessoas escolhem Let's Stay Together, Green is Blue ou Call Me. Gosto de todos, mas The Belle Album é meu disco favorito. Gravado já na decadência de Green, este é o disco em que ele se apresenta mais livre, solto, perto do erro. Seu extremo profissionalismo dá uma cochilada. O som é quase o de uma jam.
   Al Green estourou em 1971 com seu soul sexy. Sua voz não tinha a fragilidade de Marvin Gaye e nem o alcance de Stevie Wonder. Ele também era menos ambicioso que os dois. Jamais tentou gravar uma obra-prima, ou ser um tipo de guru da causa black. Fazia belos discos, cheios de groove, intercalados com baladas que nunca eram de rasgar o coração. Sua banda, exuberante, tinha uma dupla de baixo e batera que beirava o inenarrável. Sacudiam tudo, botavam tudo pra ferver, ebulição absoluta. Na época da super-black-music, Al Green era um dos deuses. Entre 71/74 mandou e desmandou, um cantor sexy, macho e muito vaidoso. Mas aí veio o tiro...
   Num hotel, em 74, Green foi atacado por uma fã. Fã que acabou por atirar em si-mesma, na frente de Al Green. Em crise, Al Green acabou por voltar à igreja e se fez pastor. The Belle Album, em que pese seu som com influências de Sly Stone e seu sacolejo funk, é um disco do Al Green espiritual. Recolhido.
   O som é menos rico que nos outros albuns. Metais e cordas comparecem menos. O que se destaca é o teclado estilingado, um par de guitarras discretas e um baixo que assume o centro do som. Enfeitando e tascando fogo na melodia vem a bateria suingada e coruscante. O disco é uma delicia de ritmo e de leveza.
   Al Green continua na ativa. Grava e faz shows, é reverenciado por cantores de r and b. Mas perdeu a vontade de ser o rei. O tiro dado pela fã paralisou sua carreira. The Belle Album é como um rastilho de pólvora que sobrara da arrancada inicial. E que poderoso rastilho.