O Rod Stewart que existiu entre 1969-1975 era acima de tudo um cantor folk com voz de negro da soul music. Foi a melhor voz do rock. E logo no início, neste disco de 1970, seu segundo disco solo, voce já percebe tudo isso.
Há um acorde de violão. E um acorde slide guitar. E em seguida a voz. Imediatamente voce entende o recado. E é transportado para aquele mundo. Chão de pedras, garoa, pobreza, melancolia viril, beleza entre o vazio. Lembro a primeira vez que escutei essa canção. Era 1982 e eu tava beeeem mal. Ela soou então como um tipo de consolo. Havia uma mensagem clara naquela voz: Resista. Ronnie Wood me ensinou então onde estava a beleza do slide. Ele era mais que blues, ele era uma afirmação. Um imenso ponto de exclamação: Eu estou aqui. É muito difícil encontrar um disco que comece melhor que este.
Depois vem a festa: Its All Over Now, um dos muitos covers que Rod fez a vida toda. Versões que são sempre ou quase sempre melhores que a verão original. Em seu disco de estreia, Rod conseguiu gravar uma versão de Street Fighting Man que é melhor que a original dos Stones. E isso foi quase um milagre. Pois aqui ele gravou Only a Hobo, e sua versão de Bob Dylan mostra uma beleza que Dylan apenas sugere. Rod Stewart tem a voz para revelar todo o potencial que uma canção pode ter. O que ele faz com Country Comfort de Elton John é sublime. Rod dá voz à uma multidão de perdidos. Nossa alma, em sua profunda imensidão, agradece.
O que posso acrescentar sobre CUT ACROSS SHORTY? Em outros posts falei muito dela. Descrever? Uma bateria surpreendente ( Mick Waller ), tropeçando bêbada entre o som do violino cigano que promete banditismo. O suspense do violão em seu acorde que lembra uma cascavel. O contra baixo ( Pete Sears ), é uma locomotiva que resolve o Kaos inicial e faz a música avançar. Rod começa a cantar e nós seguimos a saga. É uma saga, uma lenda, um conto, uma oferenda. Desde a primeira vez que a ouvi ( dizem que as grandes músicas se gravam de tal modo em nós, que sempre vamos lembrar da primeira vez que as ouvimos, onde estávamos, que clima fazia, como nos sentimos ), cut across shorty é das minhas cinco favoritas em qualquer tipo de escolha. Ela ergue o espírito. Fala direto à ele. Carrega-o.
Jo's Lament é de uma tristeza aceita. O disco todo tem um caráter melancólico. Sempre impressiona o fato de como pode esse compositor se perder. Não há exemplo maior de dinheiro em excesso e mulheres erradas como agentes de corrupção do talento. Tento escapar desse chavão, mas é exatamente o que aconteceu com Rod. Na história do rock, apenas Al Green teve uma transformação para pior tão absoluta. No caso de Green foi seu encontro com Deus que o desviou da música sexy e secular que ele fazia. Green se tornou ministro da fé e cantor de gospel. No caso de Rod foi a auto satisfação que o desviou de seu talento de compositor de hinos aos pobres perdidos e cronista do cotidiano redescoberto. Ninguém escrevia melhor que ele sobre o comum. Um pente encontrado, uma foto perdida, uma rua revisitada. Ele fazia poesia de qualquer coisa, e com a ajuda de Ron Wood e de Martin Quinteton, dava melodia adequada a essas joias da alma.
Gasoline Alley não é o melhor disco solo de Rod. O primeiro é o mais bonito e Every Picture Tells a Story é o album mais genial. Mas Alley foi meu primeiro Rod da fase heroica. Eu tinha os LPs de 1975, 1976, 1977, conhecia o Rod que era um mix de Chuck Berry com Sam Cooke, o Rod bem sucedido e hiper profissional. Quando descobri o artista primitivo foi um choque. E foi Alley quem primeiro me mostrou isso.
Então querido millenial, jogue teu preconceito no lixo e aprenda que o senhor que hoje canta Cole Porter e o playboy que cantava disco music teve uma alma. Ele a deu de presente à uma centena de louras, mas felizmente essa alma ficou gravada em discos.
Poder ouvir esse cara é um imenso privilégio.
Há um acorde de violão. E um acorde slide guitar. E em seguida a voz. Imediatamente voce entende o recado. E é transportado para aquele mundo. Chão de pedras, garoa, pobreza, melancolia viril, beleza entre o vazio. Lembro a primeira vez que escutei essa canção. Era 1982 e eu tava beeeem mal. Ela soou então como um tipo de consolo. Havia uma mensagem clara naquela voz: Resista. Ronnie Wood me ensinou então onde estava a beleza do slide. Ele era mais que blues, ele era uma afirmação. Um imenso ponto de exclamação: Eu estou aqui. É muito difícil encontrar um disco que comece melhor que este.
Depois vem a festa: Its All Over Now, um dos muitos covers que Rod fez a vida toda. Versões que são sempre ou quase sempre melhores que a verão original. Em seu disco de estreia, Rod conseguiu gravar uma versão de Street Fighting Man que é melhor que a original dos Stones. E isso foi quase um milagre. Pois aqui ele gravou Only a Hobo, e sua versão de Bob Dylan mostra uma beleza que Dylan apenas sugere. Rod Stewart tem a voz para revelar todo o potencial que uma canção pode ter. O que ele faz com Country Comfort de Elton John é sublime. Rod dá voz à uma multidão de perdidos. Nossa alma, em sua profunda imensidão, agradece.
O que posso acrescentar sobre CUT ACROSS SHORTY? Em outros posts falei muito dela. Descrever? Uma bateria surpreendente ( Mick Waller ), tropeçando bêbada entre o som do violino cigano que promete banditismo. O suspense do violão em seu acorde que lembra uma cascavel. O contra baixo ( Pete Sears ), é uma locomotiva que resolve o Kaos inicial e faz a música avançar. Rod começa a cantar e nós seguimos a saga. É uma saga, uma lenda, um conto, uma oferenda. Desde a primeira vez que a ouvi ( dizem que as grandes músicas se gravam de tal modo em nós, que sempre vamos lembrar da primeira vez que as ouvimos, onde estávamos, que clima fazia, como nos sentimos ), cut across shorty é das minhas cinco favoritas em qualquer tipo de escolha. Ela ergue o espírito. Fala direto à ele. Carrega-o.
Jo's Lament é de uma tristeza aceita. O disco todo tem um caráter melancólico. Sempre impressiona o fato de como pode esse compositor se perder. Não há exemplo maior de dinheiro em excesso e mulheres erradas como agentes de corrupção do talento. Tento escapar desse chavão, mas é exatamente o que aconteceu com Rod. Na história do rock, apenas Al Green teve uma transformação para pior tão absoluta. No caso de Green foi seu encontro com Deus que o desviou da música sexy e secular que ele fazia. Green se tornou ministro da fé e cantor de gospel. No caso de Rod foi a auto satisfação que o desviou de seu talento de compositor de hinos aos pobres perdidos e cronista do cotidiano redescoberto. Ninguém escrevia melhor que ele sobre o comum. Um pente encontrado, uma foto perdida, uma rua revisitada. Ele fazia poesia de qualquer coisa, e com a ajuda de Ron Wood e de Martin Quinteton, dava melodia adequada a essas joias da alma.
Gasoline Alley não é o melhor disco solo de Rod. O primeiro é o mais bonito e Every Picture Tells a Story é o album mais genial. Mas Alley foi meu primeiro Rod da fase heroica. Eu tinha os LPs de 1975, 1976, 1977, conhecia o Rod que era um mix de Chuck Berry com Sam Cooke, o Rod bem sucedido e hiper profissional. Quando descobri o artista primitivo foi um choque. E foi Alley quem primeiro me mostrou isso.
Então querido millenial, jogue teu preconceito no lixo e aprenda que o senhor que hoje canta Cole Porter e o playboy que cantava disco music teve uma alma. Ele a deu de presente à uma centena de louras, mas felizmente essa alma ficou gravada em discos.
Poder ouvir esse cara é um imenso privilégio.