CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO DE HOUELLEBECQ, SUBMISSÃO

O tipo de europeu contemporâneo, ateu ou agnóstico, de esquerda, que se enxerga como "da paz", existe a não mais que 100 anos. Talvez apenas 70. Diante dos 2000 anos do cristão ou dos 1500 do muçulmano, ele é um nada. Esse tipo de pessoa, o contemporâneo, costuma ter sérios problemas com sua família, seu país e sua vida sexual. Amestrado a sempre questionar, questionar aquilo que o poder deseja que ele questione, ele acaba por descrer de tudo, inclusive das coisas que poderiam lhe dar alguma felicidade. Pior, ele odeia profundamente quem aparenta não ter problema algum. Sua fuga é crer que aquele que parece feliz, na verdade esconde suas dores. A verdade é que esse miserável ser, o tal contemporâneo, é formatado para estar sempre em crise, pois o ser em crise NUNCA consegue se revoltar de fato. Ele vive no abismo do próprio umbigo. --------------------- Uma sociedade minimanente estruturada domina esse tipo de população, a do contemporâneo, com extrema facilidade. China, uma ditadura que não discute sexualidade cambiante ou patriotismo, e mundo árabe, firme na fé em Deus, ignoram e dão uma banana para o europeu que não sabe nem mesmo se é homem ou alface. Eles riem gostosamente da fraqueza repugnante da sociedade da Europa atual. --------------- Um líder ao velho estilo, uma nova Thatcher ou um novo Reagan, seria um remédio para esse status quo, mas o contemporâneo foi amestrado a reagir com o fígado, sem pensar, a simples mensão da palavra DIREITA. Ele prefere assistir a destruição de sua civilização a admitir o direito de existência à direita. Desse modo, ele tolera, ou pior, ignora, o incêndio duma catedral, o aumento da violência, o crescimento da pobreza, desde que a direita não se beneficie de nada disso. Sem nem tentar pensar, de modo automático-amestrado, ele entrega sua nação a gangues de traficantes ou a terroristas islâmicos, desde que a tal direita não fique no poder. Por que tanto ódio à uma parte da nação que deseja preservar a própria nação? Arrisco dizer que o contemporâneo vê na direita a imagem do PAI, aquele ser simbólico que lhe faz perceber o quanto ele é falho e covarde. Conviver-aceitar o PAI, o líder masculino ( masculino como símbolo, mulheres podem ocupar esse posto ), o princípio da autoridade moral, é para ele insuportável. Ele precisaria aceitar sua profunda falta de virilidade. Ele foi educado a ligar virilidade à estupro e burrice. Uma parede de aço o impede de pensar sobre o assunto. ----------------------- Eu consegui saltar fora desse mundo bobo. Lembro que nos anos 80 eu achava Reagan e Thatcher os maiores vilões da história. Não procurava saber o que de tão ruim eles haviam feito. Bastava alguém como Joe Strummer ou um colunista da Folha me mandar odiar. Então um dia eu notei que Reagan não fizera nada que Kennedy não fizera. O democrata louro começara a guerra no Vietnã e tentara invadir Cuba. Mas o vilão era Reagan que invadira Guam. Thatcher, quando morreu, vivia na mesma casa que morava antes de ser primeira ministra. Não há prova maior de retidão moral. Mas ela era, para 99% dos astros do rock dos anos 80, o mal reencarnado. Por que? Por se afirmar conservadora. Apenas isso. Seu racismo-ódio aos pobres-autoritarismo nunca se confirmam para quem lê a história dos anos 80. ------------------- Houellebecq nunca se diz de direita. Mas ele sempre diz que não conhece a direita. E não perde chance de mostrar o ridículo da esquerda francesa. A profunda hipocrisia cega de uma política de bem estar social que conduz ao desastre completo. A Europa ocidental, em apenas 30 anos, se tornou nada mais que um tipo de Bordel de milionários corruptos e príncipes árabes. O jovem europeu, sem nenhum senso de nação, passivo ao ponto da letargia, tem como desejo viver para sempre como aos 20 anos de idade: drogas, festas e sexo ocasional. Mais nada. Seu destino é ser um tipo de bibelô de quem manda de fato, um objeto que enfeita o Bordel, um pet sem poder de decisão e sem desejo de fuga. Ele questiona, veja que ridículo, aquilo que O PODER QUESTIONA!!!!!! Sua "juventude" é submissa ao líder, seja ele o bilionário da rede social, o dono da marca que patrocina sua festinha, o traficante da esquina. É uma juventuda "rebelde" que tem como rebeldia a cor do cabelo e a liberdade anal. Fora isso, são mais que conformistas, são amestrados. ------------------------ Por isso que o personagem do livro aceita a submissão ao islã. Ele vê, afinal, na religião a única chance de se salvar algo da masculinidade negada e da civilidade perdida. No cristianismo ele percebe a falência absoluta, a igreja do Papa se vendeu ao mundo temporal, tão completamente, cedeu tanto, para tentar salvar sua existência, que se tornou irrelevante. Nada se encontra hoje na igreja do ocidente. --------------------- Aceitando as regras do islã ele aceita uma nova chance de civilidade. É tudo.