O MAGO, NOVELA DE VLADIMIR NABOKOV

Nabokov escreveu esta novela em 1939. Leu o texto numa reunião com amigos e esqueceu sua existência. Nos anos 80 seu filho encontrou uma cópia entre os papéis do pai. Foi publicada então. Com 60 páginas, voce lê num fôlego só. O que me incomodou foi sua introdução, escrita pelo próprio filho de Nabokov, em 1987. Há nele uma tentativa politicamente correta, já em 87!!!!, de justificar a "imoralidade" do texto. É sempre lamentável quando vemos alguém tentando convencer o censor a aceitar uma obra "imoral". Principalmente quando esse advogado de defesa é o filho do mestre. Ele fala e argumenta sobre a inocência do pai. Só faltou dizer que ele amava velhinhas e cachorros. ------------------- A novela em si fala sobre um homem, rico, de 40 anos, que na Paris de 1935, tenta seduzir uma menina de 12 anos. Lolita? Sim e não. Sim porque fala de pedofilia. Não porque personagens, estilo, ação são completamente diferentes. O sedutor é muito mais decidido, pensa menos, age com pressa. A menina não é nem de longe uma ninfeta ( termo criado nos anos 50 por Nabokov ). É apenas uma criança sem maldade ou malícia. O ambiente não é importante aqui, já em Lolita a AMÉRICA é o personagem principal. Quanto ao estilo, Lolita é quase uma comédia negra, este é um exercício de ourivesaria. E eis o ponto central: Nabokov escreve bem. Muito bem. Magicamente bem. --------------- Existem 3 tipos de leitores e portanto 3 tipos de autor. Existe o leitor que procura emoção no enredo do que lê. O que lhe seduz é a história contada, aquilo que os persoangens fazem, falam, as surpresas criadas na ação. Não pense ser simples escrever assim. Autores como Defoe, Conrad, London, eram mestres nisso. Descrever ação, cenários, caracteres, fazer o enredo andar, essa é uma arte árdua, exigente, cruel. O segundo tipo de autor se interessa com o lado psicológico do que escreve. São os escritores que fazem nascer grandes personagens, que fazem com que nos apaixonemos pelos seres dos livros. Nos interessamos pelo que eles sentem, pensam, pelo modo como mudam dentro da história contada. Jane Austen, Balzac, Tolstoi são mestres neste estilo. E por fim há o autor que nos seduz pelo modo como escreve. É o mestre que ao descrever uma rua no crepúsculo tira dessa rua milhares de imagens e de pensamentos verbais. Lemos porque sentimos paixão por ler aquilo que ele escreve. Henry James e Proust eram assim. Nabokov é imenso nisso. ------------ Óbvio que grandes autores como os citados misturam esses 3 estilos. Tolstoi ou Conrad conseguia fazer enredo, psicologia e verbalismo ao mesmo tempo. Nabokov também. O pedófilo age, consegue o que deseja, mas perde tudo por um erro seu e só seu. Este livro, tão curto, é brilhante. O mestre russo consegue nos fazer entrar na mente do pedófilo, ver o que ele vê, sentir o que ele sente, errar o que ele erra. ---------------- O filho de Nabokov fala muito na introdução da "doença", da "loucura" do pedófilo. Leitura errada meu querido. Ele é normal em termos de funcionamwento mental. Seu problema é de caráter. É mau. È egoísta. É amoral. Uma das aramdilhas do nosso tempo é confundir doença com caráter, diagnóstico com moral. Basta ler o livro para perceber. Nabokov descreve um homem vaidoso, egocêntrico, dono de seus atos. Não é uma vítima. É autor de sua vida.