E A FRANÇA?

Leio uma matéria, boa, onde se diz que 48% dos jovens franceses ( entre 12 e 22 anos ) não dominam sua própria língua. Nada demais se essa pesquisa fosse feita no Brasil ou na California, mas a França, como toda pessoa culta sabe, sempre foi o país que amava sua língua. Basta dizer, aprendi isso estudando linguística, que era a França o país onde a língua dos séculos XVII e XVIII menos mudara. Mais incrível, era a nação onde a fala das ruas mais se parecia com a fala dos escritores eruditos. A língua francesa fora construída, séculos afora, para servir ao pensamento. Enquanto o inglês fora aperfeiçoado como língua dos mares e do comércio, e o italiano como a língua da canção e da sedução, o francês era a fala daqueles que pensavam. Era feita de sutilezas, de duplos sentidos, de pequenas nuances. Tudo isso acabou ou está em vias de acabar. A França é hoje país de patois, de girias, de fala apressada e estúpida, de analfabetos ( claro que falo em comparação com aquilo que foram um dia ). Foucault conseguiu o que queria. Todas as instituições francesas foram derrubadas. O que Foucault, sempre uma besta, não contava é que a língua de Foucault e de seus amigos fosse derrubada com eles. Como nos diz a revoalução francesa, intelectuais amam a revolução e jamais aprendem que são eles os primeiros a irem à guilhotina quando a revolução se afirma. ------------------ Quem lê meus posts sabe que hoje eu desprezo a França. É um país ridículo constituído por gente frouxa. Têm a doença mental que todo europeu tem: vaidade narcísica. Viajam pelo mundo para purgar a culpa de um passado feito de escravidão e roubo. E ao mesmo tempo tudo o que têm é a herança cultural desse tempo que tentam cancelar. Se pensarmos apenas na história europeia dos últimos 50 ou 60 anos, veremos que é uma história insignificante. Tudo o que fizeram em arte, política ou ciência é reflexo dos centros americano-russo-japonês. Agora chinês. Puxa-sacos do dinheiro, refinados sem cultura, revolucionários preguiçosos, isso é a Europa em 2022. Museus e restaurantes, vestidos e restos do explendor, c'est tout. Sem crianças, um continente de velhos e de estrangeiros. E estrangeiros, afinal, alguém tem de limpar o lixo que os europeus não limpam; não querem mais ser europeus. Nem eu quero. ----------------- O que escrevo é texto de ex amante. Pois a França foi amada por mim nos meus 18, 20, 25 anos de idade. Amava a língua. Amava a comida. Amava a sujeira. Amava a história. E seus pintores, cineastas, escritores. A França era como Alain Delon. Linda e perversa. Como Jean Gabin. Um toco de Gitanes e um boteco cheio de fumaça e de putaines. A França era sexy. Mesmo nos anos 50 seus filmes tinham mulheres sem roupa, cenas de cama. A França dos filmes de Truffaut, romântica, meio infantil, idealista, livre e perdida. Dos policiais sórdidos de Melville, Becker, Clouzot. Homens meio sujos, barba por fazer, viris, tóxicos, quietos. Mulheres apaixonadas e loucas. Mentirosas. Eu amava tudo isso, que já era uma fantasia, mas que existia, eu vi. Pintores de blusa listrada, baguete sob o braço, boinas, sofrendo de amor até achar outra. ---------------- Eu descobri a literatura séria com Voltaire aos 15 anos. Até então eu lia por causa do enredo e não por causa do autor. Voltaire foi meu primeiro favorito. Depois veio Stendhal, Proust, Camus. Eu aprendia a língua na Aliança Francesa. A terra das festas na Provence, do queijo e do vinho, do sol e do vento frio, a terra mais viva do planeta. Mas..... Como toda civilização, a França se apoiava nos 3 valores que matèm uma civilização unida: Fé. Educação. História. O amor francês por seus intelectuais, nunca houve país que mais os levasse a sério, foi seu suicídio. Mataram o catolicismo francês. E esse catolicismo era o mais puro do mundo. Mataram a família como núcleo de educação básica. E por fim renegaram a história francesa à meia dúzia de slogans sem sentido. -------------------- Quando a língua morre ela leva a cultura inteira para o lodo. Livros clássicos se tornam leitura de poucos eruditos, e a fala das ruas não consegue mais acessar os meandros da inteligência. Pois a fala é um código mental, uma chave que nos faz adentrar os segredos da vida. Sem ela somos apenas escravos. Roma perdeu sua língua. Atenas foi roubada da sua. ----------------- ATENÇÃO! Não falo do crescimento de um vocabulário, essa absorção que uma língua viva faz de tudo que lhe é útil. Do inglês pegando palavras do espanhol, do francês, do alemão, para assim crescer. Eu falo do fim da sintaxe, de quando a língua vira preguiça, o vocabulário encolhe ao mínimo. Como diz o autor: é o momento em que falamos de amor latindo, expressamos raiva ganindo e tentamos dizer o que sentimos gemendo. Não estamos longe disso. Há canções que a anos não fazem mais que gemer e latir.