ANTHONY MANN É MELHOR QUE JOHN FORD?
Anthony Mann dirigiu épicos. Todos bons. Filmes noir. Todos ótimos. E westerns. Inesquecíveis. Seu tema é sempre o do indivíduo contra o meio. E seu heroi nunca é apenas um homem bom e corajoso. Ele tem razão, mas sua ação é muitas vezes errada. Seu cinema é enxuto. Não há uma só cena a mais. Ele diz tudo com o mínimo de palavras e de gestos. Jamais enrola e nunca nos chantagia. Vai direto ao ponto. Sem simplificar. E há a imagem...em westerns poucos souberam tomar partido do cenário como ele. Mas não há nada de pitoresco em seus filmes. Ele não cessa a ação para exibir uma bela paisagem. A paisagem está ali, resplandescente, como parte da narração. O foco é o heroi. ---------------- Anthony Mann não atinge as alturas dos westerns de Ford. Nenhum filme dele pode suportar a grandeza de RASTROS DE ÓDIO. Porém Mann nunca insere em seus filmes as cenas gratuitas que Ford sempre coloca. Os filmes de Ford são imensas obras primas, mas nunca são perfeitos. Em todos, mesmo em RASTROS DE ÓDIO, há algo de excessivo, até mesmo de tolo. Isso porque Ford sempre faz questão de ser o irlandês de anedota, o irlandês do pub. Então ele vai filmar uma piada pesada, uma bebedeira sem sentido, uma luta de socos injustificada. Essas cenas não destroem seus filmes, algumas são inclusive maravilhosas, mas desvirtuam a ação, poluem o que seria perfeito. ----------------- Nada disso ocorre em Mann. Em todos os seus westerns nada é demais, tudo é como tem de ser: perfeito. Não há piadas, não há simpatia irlandesa, não há cantoria piegas. Como um matemático, ele busca a exatidão. E consegue. Nunca é frio, porém jamais tenta nos comover. Então eu diria que na comparação, Mann é muito mais moderno e Ford é antigo, e por isso, clássico. ------------- Acabo de assistir CAMINHO DO DIABO, filme de 1950 sobre a questão dos índios. Um chefe que lutou na Guerra ao lado dos soldados do norte, ao voltar para casa é tratado como um "mero índio". O filme inteiro não tem uma só cena que não seja vital, que não exista com uma função clara, que não faça a história andar. Sem nada de melodramático, o filme nos mantém tensos, participantes e termina nos comovendo sem apelar para música ou mensagem bacaninha. É um filme perfeito. Mas não é grande. Jamais poderá ser chamado de obra prima e nunca despertará a paixão que Ford desperta. ------------- Talvez porque o objetivo de Mann sempre foi esse: fazer direito, enquanto Ford tinha outra coisa em mente, tecer elegias. Ambos conseguiram, ambos venceram suas apostas.