AGRADECENDO À DEUS E À FAMÍLIA. PORQUE TANTO ATLETA É TÃO CONSERVADOR?

Eu odiava meu pai. Odiava mesmo, de forma assumida. Odiava também igrejas, todas. E famílias comuns. Eu tinha ódio por burgueses felizes. Por artistas felizes e bem sucedidos. Portanto eu sou prova viva daquilo que um certo tipo de educação faz: A destruição de qualquer chance de ser feliz. --------------- Porque para mim, aos 12 anos, ser jovem era ser contra tudo. E aos 18, ser jovem era ser briguento. Me via como um tipo de artista maldito. Era esse meu modelo. Viver era sofrer e a culpa da minha dor era do mundo de meu pai, aquele que ele me legou. Tudo de errado era obra de gente como ele. ------------------ Depois tudo isso se suavizou, tornou-se mais complexo, mas o mal já estava feito em mim. Eu fora educado para me ver como UM SER ÚNICO, ESPECIAL, INVULGAR. O povo me dava nojo. Eu era um aristocrata do espírito. ---------------- Cresci no meio de pessoas que eram mais ou menos como eu. Alguns até amavam seus pais, mas sempre havia essa super valorização do EGO, essa coisa narcisista de se achar especial, esse umbigo onipresente. NINGUÉM MANDA EM MIM. NÃO OBEDEÇO NADA. MEU MUNDO EU FAÇO. Esses os slogans centrais. -------------- Mas, por acasos da vida, fui obrigado a sair desse mundo, mundo aliás que eu achava ser o único possível. E aos poucos fui notando que fora do meu grupo social não havia a tal crise de sentido do século XX. Que o universo de meus ídolos, gente como Bergman ou Proust, só era válido para quem fora educado como eu fora, se achando especial e tendo tempo livre para sentir um tédio sem fim. Gente, que como eu, crescera odiando sua raiz, porque toda raiz é antiga-velha e podre. -------------- Todo atleta parece conservador porque fora da BOLHA, Deus permanece vivo. Fora do Leblon e da Augusta, a família comum ainda conta. Saindo do mundo das aulas de sociologia, ainda se chama pai de senhor. No universo, imenso, que vive fora das séries chiques da Net, ainda se crê no bem e na virtude. --------------- Meu mundo, aquele onde fui educado, o dos filmes de arte, discos de rock e livros niilistas, nele o que mandava e manda, é o vazio existencial ou a loucura anarquista. Esse mundinho existe e é real, meu erro foi crer que era o único que havia. -------------- Antes ainda podíamos ver nos filmes do tipo John Ford, ou em certas novelas da Globo, esse mundão mais vasto. No cinema popular e nas novelas se dava algum espaço para a vida fora da bolhinha elitista das aulas de filosofia e arte. Mas a partir dos anos 90, tanto cinema como TV, foram ignorando e depois matando esse mundo "mundão". Era como se em todo o planeta, toda a Terra, todos fossem niilistas, existencialistas ou rebeldinhos sem documento. Demorou para eu notar que esse mundo, que chamo de "chique inteligente sem razão", é predominante apenas para eles mesmos. É feito pela turminha para consumo da turminha. Quem é de fora até assiste às vezes, mas a turminha ficaria chocada se soubesse o que o MUNDÃO pensa desse povinho chique. -------------- Atletas choram pensando nos pais e citam Deus porque a maioria do povo é assim. Protegem seus pais e se orgulham de sua família. Amam Jesus Cristo e oram para Deus-Pai. Querem filhos. Querem dinheiro. Querem saúde. Mais nada e isso é mais que tudo. Vivem a anos luz da turminha da bolha. E garanto, estão muito mais próximos de viver uma vida plena. Porque vivem em relativa paz com seus instintos, com seus sentimentos e principalmente com seu passado. Não romperam a linha da vida com os dentes do ódio. Nunca acreditaram que para ser livre é preciso negar seu pai. Não foram educados para a tristeza.