OS INOCENTES, FILME DE JACK CLAYTON COM ROTEIRO DE TRUMAN CAPOTE BASEADO EM HENRY JAMES

Lembro ainda, vagamente, de uma crítica lida a mais de 40 anos. Na época a crítica de um filme, mesmo um que fosse passar na TV, era longa, erudita, densa. O autor, não lembro quem, citava Freud, Jung, Joyce, um monte de gente. Dava 3 significados diferentes ao filme. Pena não ter guardado esse texto... Para ele, Os Inocentes era o único filme de fantasmas feito por gente que acreditava em fantasmas. Revejo-o ontem de noite. O final ainda me arrepia. ---------------- Uma governanta vai ao campo, à uma casa imensa, tomar conta de duas crianças. Ela vê fantasmas. Tenta curar as crianças de sua possessão. Fim. O roteiro de Capote aumenta a dose de sexo do texto de Henry James. A novela apenas sugere sexualidade reprimida, o filme explicita o sexo latente em cada cena. O menino, tomado por um espírito?, seduz a governanta, e ela se deixa arrebatar. É uma criança má, ruim, e não sabemos se ela é assim por caráter ou por assombramento. A governanta aposta na segunda opção. Veja o filme para ver o que acontece. ----------------- Jack Clayton foi produtor de filmes de John Huston e depois passou a dirigir. Acertou todas até o meio dos anos 60. Então começou a errar e o péssimo Gatsby, aquele com Redford e Mia Farrow, destruiu sua carreira. Os Inocentes é um de seus grandes acertos. Para muitos é uma obra prima. -------------- O Sexto Sentido copiou não só o clima como uma cena deste filme. Aqui se cria o modo de se mostar uma aparição do modo mais "realista" possível. O fantasma não aparece para atacar ou assustar, ele simplesmente está lá. Uma sombra em meio a outras sombras, um ser no meio de outros seres. Estará a governanta louca? Creio que não. Os fantasmas realmente existem aqui. Eles são o que são: duas almas do mal. Na crítica antiga que citei, o autor fala que tudo foi uma fantasia da governanta, histeria freudiana de sexualidade reprimida. Bem...pode até ser, mas isso trai Henry James. James acreditava em aparições. Seu tempo, a virada do século XIX-XX, era hiper interessada no tema. O que mais me salta à mente no filme é a tese magistral do conto Os Mortos de James Joyce, o modo como os mortos influenciam e guiam a vida dos vivos. Seja em lembrança, seja em presença inefável. Voce escolhe sua fé. ----------------------- O final do filme, dos melhores finais da história, é um tapa. Eu adoraria ver a cara de surpresa do público nos cinemas em 1962. O The End aparece e todos com aquela cara de "Hein?" Acaba assim? Como? -------- Assista!