EMMA - JANE AUSTEN, A HEROÍNA MAIS BURRA DO MUNDO

Último romance de Jane Austen a ser publicado enquanto ela era viva, Emma é um livro problema. A heroina, Emma Woodhouse, é uma anta. Sim, eu concordo que ela sabe conversar. Toca piano e canta. Não é chorona. Cuida do pai hipocondríaco. Jamais se escora em homem algum; mas, por Deus, como pode ser tão cega, tonta, auto iludida? Ela passa o livro inteiro imaginando relações amorosas que jamais aconteceram e não irão acontecer, dando péssimos conselhos, jogando lances absolutamente errados, deixando de perceber o óbvio e sempre encontrando o ilusório. Como em toda obra de Austen, nada há de choroso aqui. Apesar de Jane ser contemporânea de Wordsworth e Byron, seu mundo mental é anterior, ela vive no racionalismo de 1750. Apesar de seu sucesso estrondoso em 1800, 1810, ela nada tem de romântica. Os casamentos são felizes, e todos acontecem por causa do dinheiro. Emma se enamora de Knightley, mas antes de se deixar levar, ela pensa que sua união é aceita por todos, é vantajosa. Esnobe, presa às divisões de casta, Emma se guia pelo que é possível, por aquilo que não surpreenderá ninguém. A união de Frank e Jane a surpreende, mas esse casal é a excessão que afirma seu modo de pensar. --------------------- Jane Austen, um dos maiores mistérios da história, será sempre um modelo para todo aquele que deseje escrever romances. O modo como ela faz com que sigamos uma personagem tão pouco "interessante", Emma nos irrita mas jamais entedia, é brilhante. Mais meritória é a maneira como a vemos mudar. Nas últimas 50 páginas vemos uma nova Emma surgir, e para isso Austen não usa adjetivos, ela apenas narra. Creia-me, pouquíssimos autores conseguem fazer uma personagem mudar. Em 90% dos bons livros, o que vemos são caracteres que nascem e morrem como sempre foram, sem mudar, sem crescer. Emma se modifica, e para a credibilidade do romance, ela muda quase nada, apenas o bastante para poder, finalmente, amar. Longe das alturas de Orgulho e Preconceito, é um bom livro.