TODO GÊNIO SOFRE?
Postei video do grande Liszt. Uma de suas peças mais amadas e copiadas. Liszt é artista do auge do romantismo, e por isso ele via a si mesmo como uma pessoa "especial". Um SER à procura de seu lugar no COSMOS. Não, não é pouca coisa esse ego...Mas...sempre foi assim? Todo gênio, e não sei se Liszt foi um, é um sofredor eterno? Uma pessoa sem lugar, superior ao seu meio, enamorado da dor? Se pensarmos só no romantismo, sim. A partir de Beethoven, sofredor autêntico, gênio guia, todo artista passou a ter compromisso com noites negras, angústias sem fim e doenças queridas. Então de Chopin à Schumann, de Tchaikovski à Mendelssohn, todo músico teve seu quinhão de penas a pagar. O difícil é saber onde termina o real e onde começa a fantasia. Pois, à partir daí, todo gênio, seja em que arte for, passou a ser visto como um anjo caído. E na maioria das vezes, eles foram apenas pessoas normais, com dores como as suas, e alegrias como todos temos. -------------------- Foi então que criaram o mito de um Mozart infeliz ou de um Bach frustrado. Nunca foi assim. Dou alguns exemplos. ------------------------- Bach seria um gênio que ansiava pela fortuna e pelo reconhecimento que nunca teve. Não, não era. Bach vivia bem e conseguiu criar uma montanha de filhos. Compunha por encomenda, era seu trabalho. De fè luterana imensa, ele servia à Deus e depois aos homens. Sua alegria estava garantida se sua consciência estivesse limpa. E era este o caso. Bach foi um trabalhador artesão satisfeito. Ele produzia. Ele sustentava sua família. Ele servia ao Senhor. O que mais ele queria? Uma paróquia melhor, uma igreja maior, um orgão mais bem feito, sim, mas qual o trabalhador que não tem o desejo de crescer? Bach tinha as dores de todos nós. Ou melhor, não tinha as dores do século XIX, não suspeitava do sentido da vida. Bach era feliz. -------------------- Quem leu as cartas de Mozart sabe que ele tinha 3 grandes interesses na vida: jogo, mulheres e vinho. Era um típíco homem de seu lugar e seu tempo. Compunha para pagar dívidas, era doido por traseiros femininos, amava falar palavrões e trabalhava como quem brinca. Salieri nunca foi seu inimigo, pelo contrário, tentou lhe ajudar em disciplina. Na verdade Mozart era mimado. O sucesso como criança pianista o estragou para a vida real. E sua mulher criança aumentou sua confusão. Mozart, um gênio absoluto, não tinha tempo para crises existenciais. Morreu de infecção urinária, provavelmente pega ao fazer sexo anal. Gênio sofredor? Ele sofreu aquilo que todos nós sofremos. Mas tinha um dom. E o usou. ------------------ Haydn servia a nobreza. E trabalhava sem parar. Sobre Haydn nem mesmo os mais romanticos autores conseguiram criar um mito. Ele era um homem simples, do povo, que ficou muito rico com sua música. Mais nada. Se Haydn não tem a fama de Mozart, é exatamente por sua vida não dar chance à invenção romantica. ------------------- Haendel era um poderoso gênio, extremamente bem sucedido, que dominava completamente a música da Inglaterra. Foi enterrado como heroi. -------------- Schubert, contemporâneop dos primeiros romanticos, teve sua vida romanceada. Seria um tuberculoso que morreu cedo, infeliz no amor, feio, desprezado. Claro que não! Schubert não era feio, era pobre mas não morreu de fome, teve tuberculose como tanta gente mais. Era feliz, incrível isso, era feliz! Típico vienense, amava vinho, mulheres e noites nos bares. Foi frequentador assíduo de bordeis. Sua música, sempre feliz, não era uma fuga à um mundo imaginário. Ela era sua vida. --------------------- Posso falar ainda de Wagner, Strauss, Debussy, Ravel....montes de gênios ou de talentos que não têm o perfil do ser infeliz. Eis mais uma de nossas péssimas heranças do tempo romântico, a crença na equação gênio = sofrimento, que deveria ser apagada para sempre.