O SONHO AMERICANO: AMERICAN GRAFFITTI

   Continuo minha filtragem de dvds com Loucuras de Verão, American Graffitti, segundo filme de George Lucas, 1973, produzido por Coppola no auge de seu poder. Haskell Wexler fez a fotografia, sensacional, e o roteiro é de Gloria Katz e Willard Huyck, a gang de Star Wars. No elenco, o futuro diretor Ron Howard, Richard Dreyfuss, Cindy Willians e Candy Clark. Tem também um certo Harrison Ford, na época se sustentando como carpinteiro. Na trilha sonora, e é a melhor trilha desse tipo já feita, clássicos do rock e do soul gravados entre 1955-1962. O filme exibe uma noite na vida de um grupo de jovens. Nas ruas. Nos carros. Nas lanchonetes.
   Sobre a trilha sonora: Foi a primeira vez em que uma trilha sonora foi toda feita com canções que já existiam. E que já eram conhecidas. The Graduate ( A Primeira Noite de um Homem ), tem uma trilha toda de canções de Simon e Garfunkel. Mas elas foram feitas para o filme. E são todas deles e só deles. Vanishing Point e Easy Rider têm vários rocks de vários artistas. Mas não eram músicas conhecidas antes do filme ser lançado. É aqui que nasce essa mania que hoje é um dos piores clichês do cinema: Melhorar uma cena com o apelo de uma canção que todo mundo gosta. Posso citar centenas de cenas, em outros filmes, que parecem ótimas, mas que na verdade são banais. Sua beleza repousa toda na canção de Elton John, ou de Al Green, Marvin Gaye, T.Rex, Abba, Gary Glitter etc etc etc. George Lucas não faz isso aqui. Ele usa as canções como fundo, nunca como centro da cena. Acostumados que somos ao apelo fácil dos filmes atuais, estranhamos o fato de ele não explorar mais apelativamente essas músicas. O filme é uma aula de rocknroll. Buddy Holly, os Falmingos e Booker T, and The MGs são os melhores? Não sei! Tenho o LP com a trilha e juro que depois de o escutar pela primeira vez, em 1983, minha visão de rock mudou pra sempre.
   Sobre o roteiro: Nos primeiros vinte minutos voce vai pensar: É só isso? Mas então começa a acontecer algo de muito raro em cinema, voce é seduzido pela simplicidade. E observa que há alí muito mais do que parece. É o anti Godard. Ele fala muito sem enfatizar o fato de estar dizendo algo. As coisas estão no filme, sem palanque. Voce que as perceba.
   Sobre a direção: Lucas obtém do elenco um pequeno milagre. Todos são profissionais, mas retém o que de melhor há no amador, a espontaneidade. Não há um só momento de amadorismo, mas ao mesmo tempo, tudo parece feito por principiantes. Dazed and Confused de Linklater é American Graffitti em 1976. E embora seja um ótimo filme, ele é e parece ser amador. Tem o lado ruim do amadorismo. Aqui não. É um filme puro.
   Sobre sua fama: Este é o segundo filme de Lucas e seu primeiro sucesso. Nos EUA foi o terceiro maior hit de 1973. Perdeu apenas para O Exorcista e Golpe de Mestre ( que bom ano esse ! ). No Brasil nunca teve a fama que tem por lá. Talvez porque ele fale de um estilo de vida que para nós é alienígena. Não tivemos essa geração baby boom. Em 1962 éramos ainda um país agrário.
   Não precisa então dizer que ele sobrevive lindamente. E que se voce nunca o viu, corra e veja. Nos primeiros vinte minutos voce pensará que é apenas mais um desses filmes sobre faculdades, na verdade ele foi o primeiro, mas depois voce vai perceber que os personagens são de carne, osso e alma, e que têm muito o que dizer, MESMO QUE NUNCA O FALEM.
   Eu, como muita gente mais, sinto pena de Lucas ter dedicado o resto de sua vida à saga Star Wars. Nunca saberemos o que ele seria se Luke e Leia jamais tivessem nascido.