Pra muita gente nos EUA, o melhor filme de Richard Linklater é ainda o primeiro que ele dirigiu, este DAZED AND CONFUSED. Eu o vi pela primeira vez em 1998, na TV. Me causou espanto um filme tão despojado conseguir me seduzir. O tema é simples ao extremo, fala do último dia de aula de um grupo de alunos em 1976. Mas, ao contrário do que se espera, não é mais um filme piada, sobre jovens tarados ou nerds azarados. Ele procura ser "vida real". Não é engraçado, mas também não é drama.
Revi este filme mais duas vezes já neste século. Sempre gostei. Muito. E ontem, mais uma vez, visitei aquele grupo de jovens. Estranho eu nunca ter notado o que notei ontem...
O filme se passa no dia 28 de maio de 1976. A trilha sonora, excelente, tem Foghat, Alice Cooper, War, Dr. John, Kiss, Aerosmith ( era a nova banda do momento ) e um soberbo etc. As roupas são corretas: jeans muito justos com bocas muito largas, camisetas curtas, cabelos sem corte. Os carros estão lá: Fords e Chevys imensos. Mas...NÃO É UM FILME SOBRE 1976. É UM FILME SOBRE OS ANOS 90. Assim como o último filme de Tarantino se passa em 1968, mas fala sobre 2019, este filme de Linklater, visto hoje, nos dá saudade de 1995 e nos transporta ao dia 26 de maio de....1996.
Quando ele começa eu logo penso: Não estou gostando mais deste filme...1976 não era assim...não havia tanta maconha...as pessoas não eram tão politicamente corretas....as gírias eram outras...e esses atores são velhos demais para esses papeis!!!
Sinto um certo desconforto. Tudo parece fake. Isso dura cerca de 15 minutos, mas então a poesia seca do filme reaparece, e eu volto a gostar do que vejo. O filme é tão banal, tão simples, tão sincero, que não há como não se deixar pegar. Mas um novo ponto de vista se instaura: Por mais que Linklater queira falar sobre 1976, ele está nos anos 90. Não há como situar-se lá outra vez. E se vemos filmes realmente feitos em 76 vemos que nada se parece com Dazed and Confused. Há aqui a consciência de se estar em 90. Olha-se para 76 com um carinho que em 1976 não havia. Peter Frampton era brega. Era odiado. Hoje ele é cool.
O filme é bom. É ótimo. É o American Graffitti da sua época. Os caras bebem cerveja. Beijam. Andam de carro. E fumam maconha. Ben Affleck, Mila Jovovich, Parker Posey aparecem no filme. Mas quem o rouba é Mathew McConaughey. Voce ouve ele falar "All Right", é basicamente sua única fala, e sente que uma estrela nasce ali. Ele faz o papel do cara que largou a escola pra trabalhar. Mega cool, é um texano que jamais fica nervoso e nunca tem pressa. Vence no bilhar e ganha as meninas. Mas parece não estar nem aí pra nada.
Os anos 90 foram uma tentativa, feita por uma geração nascida entre 1962-1972, de reviver a década de 70. Tanto o rock de Seattle, como as bandas inglesas tipo Supergrass ou Blur, procuravam recuperar aquilo que eles imaginavam ter sido a década do hedonismo. Filmes de caras como Soderberg ou Tarantino bebiam na fonte do cinema B de 1971. Revisto ou escutado hoje, nada dos anos 90 lembra os anos 70. Nem mesmo o Aerosmith de 1998 se parece com o Aerosmith de 1978.
Dazed and Confused é uma das mais bonitas tentativas de dar vida a um tempo que só existiu na imaginação saudosista. Os anos 70 são Tony Manero entrando numa disco. E se esse personagem de John Travolta for visto como cômico ou heroico...bem...é sinal de que a coisa se perdeu.
Revi este filme mais duas vezes já neste século. Sempre gostei. Muito. E ontem, mais uma vez, visitei aquele grupo de jovens. Estranho eu nunca ter notado o que notei ontem...
O filme se passa no dia 28 de maio de 1976. A trilha sonora, excelente, tem Foghat, Alice Cooper, War, Dr. John, Kiss, Aerosmith ( era a nova banda do momento ) e um soberbo etc. As roupas são corretas: jeans muito justos com bocas muito largas, camisetas curtas, cabelos sem corte. Os carros estão lá: Fords e Chevys imensos. Mas...NÃO É UM FILME SOBRE 1976. É UM FILME SOBRE OS ANOS 90. Assim como o último filme de Tarantino se passa em 1968, mas fala sobre 2019, este filme de Linklater, visto hoje, nos dá saudade de 1995 e nos transporta ao dia 26 de maio de....1996.
Quando ele começa eu logo penso: Não estou gostando mais deste filme...1976 não era assim...não havia tanta maconha...as pessoas não eram tão politicamente corretas....as gírias eram outras...e esses atores são velhos demais para esses papeis!!!
Sinto um certo desconforto. Tudo parece fake. Isso dura cerca de 15 minutos, mas então a poesia seca do filme reaparece, e eu volto a gostar do que vejo. O filme é tão banal, tão simples, tão sincero, que não há como não se deixar pegar. Mas um novo ponto de vista se instaura: Por mais que Linklater queira falar sobre 1976, ele está nos anos 90. Não há como situar-se lá outra vez. E se vemos filmes realmente feitos em 76 vemos que nada se parece com Dazed and Confused. Há aqui a consciência de se estar em 90. Olha-se para 76 com um carinho que em 1976 não havia. Peter Frampton era brega. Era odiado. Hoje ele é cool.
O filme é bom. É ótimo. É o American Graffitti da sua época. Os caras bebem cerveja. Beijam. Andam de carro. E fumam maconha. Ben Affleck, Mila Jovovich, Parker Posey aparecem no filme. Mas quem o rouba é Mathew McConaughey. Voce ouve ele falar "All Right", é basicamente sua única fala, e sente que uma estrela nasce ali. Ele faz o papel do cara que largou a escola pra trabalhar. Mega cool, é um texano que jamais fica nervoso e nunca tem pressa. Vence no bilhar e ganha as meninas. Mas parece não estar nem aí pra nada.
Os anos 90 foram uma tentativa, feita por uma geração nascida entre 1962-1972, de reviver a década de 70. Tanto o rock de Seattle, como as bandas inglesas tipo Supergrass ou Blur, procuravam recuperar aquilo que eles imaginavam ter sido a década do hedonismo. Filmes de caras como Soderberg ou Tarantino bebiam na fonte do cinema B de 1971. Revisto ou escutado hoje, nada dos anos 90 lembra os anos 70. Nem mesmo o Aerosmith de 1998 se parece com o Aerosmith de 1978.
Dazed and Confused é uma das mais bonitas tentativas de dar vida a um tempo que só existiu na imaginação saudosista. Os anos 70 são Tony Manero entrando numa disco. E se esse personagem de John Travolta for visto como cômico ou heroico...bem...é sinal de que a coisa se perdeu.