Estive esses dias em duas livrarias Cultura. O dono errou feio. Não sei onde ele estava com a cabeça. Criar aqueles dois monstros no começo do século XXI foi de uma ingenuidade estúpida. Um amigo me afirma que é culpa do "liberalismo bolsonarista"...oh God...esse amigo é usuário de Amazon.com e tem um aparelhinho que baixa livros. Zomba de mim porque eu ainda compro livros. E a culpa é do liberalismo...
Na unidade do shopping Iguatemi o aspecto de pobreza é pior. As prateleiras estão com espaços vazios. Os lançamentos são relançamentos. Nada atrai, não sinto vontade nenhuma de gastar dinheiro. Na Paulista o ar é de fim de feira. Hora da Xepa. DVDs ridículos ocupando espaços vagos. Meia dúzia de CDs. E livros que não causam nenhuma impressão.
Acabou. O mundo mudou. Já é 2020.
O fim do DVD pode ser pior para o cinema que o fim do DVD foi para a música. Isso porque o colecionador sobrevive no meio musical, com sua coleção de LPs e seus CDs de luxo. É esse cara que anima o ouvinte não fissurado a valorizar gente como Chet Baker ou Arthur Lee. Já o cinema, sem o DVD, perde a figura do colecionador. Não há como ter um acervo de filmes da Netflix ou de obras baixadas na net. Sem o colecionador apaixonado, morre a divulgação entre amigos das obras raras. E assim o cinema fica cada vez mais dependente, financeiramente e amorosamente, das grandes corporações. Disney. E ainda a Warner.
O livro ainda sobreviverá. Mas em pequenas livrarias, sebos, casas de editoras. Acho isso ótimo. O modelo FNAC sempre foi uma farsa. Voce irá na livraria que vende best sellers ou na que vende edições pequenas. Supermercados de livros nunca foi boa ideia.
Sinto mais que isso. O cara tipo "Franco" está no fim. Franco foi um amigo que tive. Estudava sociologia na PUC e vendia blusas na Vila Madalena. Nunca foi empregado de ninguém, nunca passou dificuldades, mas posava de proletário. Tinha, em 2009, uma bandeira da Venezuela na sala. Aos 21 anos, não escutava nada gravado após 1980. E não via filmes com menos de 30 anos. Sempre sorridente, namorava meninas maconheiras de Pinheiros. Lia apenas coisas latinas e achava esquisito um ex estudante de publicidade falar de política. Não era minha area.
Esse tipo de pessoa ainda existe. Mas hoje ela é mais radical, mais feroz, mais mal humorada e, felizmente, muito mais restrita. Franco era como um hippie de 1967. Hoje esse tipo de militante parece um bicho grilo irritado de 1975. Somem na poeira dos anos. Cada vez mais deprimidos. Cada vez mais sem público que os escute.
Cinco anos atrás eu achava que seria triste ver a Cultura fechar. Hoje penso que seria a melhor coisa para os livros. Saio de seu espaço vazio com alívio. Sem olhar para trás. Dentro dela um grupo vocal canta Chico em ritmo de velório. Ex alunas da PUC, média de 65 anos, aplaudem. Maggie mudou a Inglaterra para sempre. Até hoje há quem chore a velha nação falida. O mesmo rola no Brasil hoje. Não sei se vai dar certo como deu lá. Mas a mudança é irreversível.
Feliz 2020.
Na unidade do shopping Iguatemi o aspecto de pobreza é pior. As prateleiras estão com espaços vazios. Os lançamentos são relançamentos. Nada atrai, não sinto vontade nenhuma de gastar dinheiro. Na Paulista o ar é de fim de feira. Hora da Xepa. DVDs ridículos ocupando espaços vagos. Meia dúzia de CDs. E livros que não causam nenhuma impressão.
Acabou. O mundo mudou. Já é 2020.
O fim do DVD pode ser pior para o cinema que o fim do DVD foi para a música. Isso porque o colecionador sobrevive no meio musical, com sua coleção de LPs e seus CDs de luxo. É esse cara que anima o ouvinte não fissurado a valorizar gente como Chet Baker ou Arthur Lee. Já o cinema, sem o DVD, perde a figura do colecionador. Não há como ter um acervo de filmes da Netflix ou de obras baixadas na net. Sem o colecionador apaixonado, morre a divulgação entre amigos das obras raras. E assim o cinema fica cada vez mais dependente, financeiramente e amorosamente, das grandes corporações. Disney. E ainda a Warner.
O livro ainda sobreviverá. Mas em pequenas livrarias, sebos, casas de editoras. Acho isso ótimo. O modelo FNAC sempre foi uma farsa. Voce irá na livraria que vende best sellers ou na que vende edições pequenas. Supermercados de livros nunca foi boa ideia.
Sinto mais que isso. O cara tipo "Franco" está no fim. Franco foi um amigo que tive. Estudava sociologia na PUC e vendia blusas na Vila Madalena. Nunca foi empregado de ninguém, nunca passou dificuldades, mas posava de proletário. Tinha, em 2009, uma bandeira da Venezuela na sala. Aos 21 anos, não escutava nada gravado após 1980. E não via filmes com menos de 30 anos. Sempre sorridente, namorava meninas maconheiras de Pinheiros. Lia apenas coisas latinas e achava esquisito um ex estudante de publicidade falar de política. Não era minha area.
Esse tipo de pessoa ainda existe. Mas hoje ela é mais radical, mais feroz, mais mal humorada e, felizmente, muito mais restrita. Franco era como um hippie de 1967. Hoje esse tipo de militante parece um bicho grilo irritado de 1975. Somem na poeira dos anos. Cada vez mais deprimidos. Cada vez mais sem público que os escute.
Cinco anos atrás eu achava que seria triste ver a Cultura fechar. Hoje penso que seria a melhor coisa para os livros. Saio de seu espaço vazio com alívio. Sem olhar para trás. Dentro dela um grupo vocal canta Chico em ritmo de velório. Ex alunas da PUC, média de 65 anos, aplaudem. Maggie mudou a Inglaterra para sempre. Até hoje há quem chore a velha nação falida. O mesmo rola no Brasil hoje. Não sei se vai dar certo como deu lá. Mas a mudança é irreversível.
Feliz 2020.