LIBERDADE PRA QUÊ?

   Leio a tal apostila que fala para as crianças sobre opção sexual. Como já esperava, ela é tola e inofensiva. Muito barulho por nada. O que discuto aqui é porque se escreve um texto tão burro.
   Vivemos um tempo infantil. Como crianças, cremos que querer é poder. É provável que isso aconteça não só por termos pais que nos amam e não nos educam, mas também porque viver se tornou relativamente fácil. Podemos passar anos e anos sem quase morrer e sem ver alguém morto. Antes os enterros e toda sua crua realidade eram parte da rotina do dia a dia.
   Continuando...A biologia nos diz, com imensa simplicidade, que produzir espermatozoides faz de mim um homem. E produzir óvulos faz de voce uma mulher. Só isso. Uma verdade sólida, real e comprovada. Isso não impede que voce queira ser trans. Isso não impede que voce queria amar gente de seu sexo. Isso não impede nem mesmo que voce seja assexuado em gostos e comportamento. Mas veja, gosto e comportamento, não realidade biológica.
   Mas vejamos, qual o problema em se falar: Sou um homem que se sente mulher. Sou um homem-mulher. Qual a necessidade do sofismo barato do texto da tal apostila, que faz um malabarismo vazio e tolo para afirmar ao final que a biologia é questão de querer? De escolha. De desejar ser. Ora, isso não é ciência, é brincadeira, jogo de crianças. Hoje quero ser o Homem Aranha, então sou o Homem Aranha. Sinto muito pequeno Paulinho, voce é uma criança que faz de conta ser o Homem Aranha.
   Nessa equação é lógico que entra o produto mais valorizado do supermercado mundial: a liberdade. Temos a fé, e ter fé é o que "conta", que somos livres. Podemos abortar. Nos drogar. Ir e vir. Falar o que quiser. E no extremo somos livres até para escolher nossa morte. Dentro desse mundo, eu escolho meu sexo. Se me sinto mulher, eu escolho ser mulher. Pouco importando se produzo espermatozoides. Isso é "apenas" um detalhe. Mas....surge a biologia...e com ela nosso corpo real. E por mais livres que nossa fé diga que somos, ainda assim nosso corpo nos obriga a comer mesmo quando não queremos, a defecar mesmo em meio a uma viagem, a envelhecer, mesmo com gastos altos em estética, a menstruar, a ejacular, a sentir dor, a ter dentes podres, a perder cabelo, a morrer. Nosso corpo nos grita todo o tempo que afinal não somos livres. Estamos presos a tempo e a necessidades.
   Daí nosso ódio à biologia e a tentativa de transformar tudo em escolhas. A transformar o real no irreal e a fé em verdade. Gordo é escolha, morrer é uma viagem ao mundo melhor, envelhecer é pra quem não sabe se manter jovem, e sexo é escolha. Somos um povo que ama os produtos da ciência, mas que a odeia enquanto fato real.
   Nesse tipo de mundo a verdade se torna sempre relativa. A verdade depende de seu gosto. A verdade não pode ser aceita pois ela nos prende à....verdade verdadeira e final. Ela nega a liberdade de crer no que se quiser crer.
   Nesse tipo de mundo, o mundo é plano ou é uma explosão, tanto faz, se voce tiver fé será válido. E a igreja, reino da fé, se torna um tipo de poço dos desejos. Tudo será concedido se voce crer, e nada lhe será exigido se voce assim o desejar.
   Felicidade nesse mundo infantil é impossível. Pois ser feliz é aceitar de forma profunda a imperfeição da vida e do mundo, sentir-se dentro da realidade e compartilhar essa verdade. No mundo do desejo mágico é cada um na sua, criando sem parar uma realidade individual feita de fé e de relatividade. Cada um na sua.
   Eu comecei o texto querendo falar de que em mundo onde tudo é arte e todos são artistas, a ciência se torna um tipo de primo mal vindo. Um estraga prazeres. Mas meu desejo me trouxe até este texto. Sim, sou livre para escrever aqui. E o que escrevo não é ciência, pois cientista não sou. Mas não penso magicamente que escrevo filosofia, ou arte, ou que ajudo alguém. Escrevo o que posso para ser lido por quase ninguém. É só isso.
  Todo o resto é magia.