MINHA VELHA VELHA ESCOLA

   É um final de tarde de primavera. O sol generoso parece fazer sorrir o chão e as fachadas dos edifícios anos 50 das ruas. Passo pelos portões e estou de volta após 40 anos distante.
  Não há emoção nos primeiros passos, mas após alguns segundos olho para o lado esquerdo e vejo uma alameda. Os pequenos prédios de tijolos marrons, as árvores com suas sombras calmas, as escadas que levam às portas de madeira escura, as janelas altas...meu coração se alarma. Sim, eu estou de volta ao lugar onde fui completamente infeliz. E o que sinto é apenas alegria.
  Lágrimas brotam nos meus olhos. Eu poderia me ajoelhar e chorar. Eu sorrio então. Minha alma sente-se em casa. Como posso sentir coisas boas se estou aqui?
  Lá está a construção onde eu estudava. Seu aspecto limpo e funcional. Uma fachada que sorri, aberta, clara, permitindo luz. Aqui a praça cercada, bancos, e depois os caminhos onde eu me escondia. E então a biblioteca. Alta, o aspecto de igreja sem Deus. Elegante e vitoriana. Escura, sombria, úmida, linda. Eu a beijaria se estivesse só. Nela tenho lugar. Ninho. Completamente em casa.
  Se lá fui tão infeliz, e sei que fui, e agora me sinto em casa, então a conclusão me vem: É porque a tristeza que eu sentia então, hoje me parece acolhedora. Naquela escola nasceu a pessoa que sou, e esse parto foi dolorido, sofrido, solitário, quase um trauma. Muito tempo se passou e agora, hoje, a alegria vem não só da vitória de ter sobrevivido e retornado, mas principalmente por conseguir reconhecer nos tijolos marrons e nas árvores escuras, um berço. Sim, aquele local maldito é minha pátria mãe.
  Tenho de sair de lá. Me conduzem para fora. Olho os muros que não mudaram. Os porões onde existiam os laboratórios. Me lembro da minha incapacidade para aprender. E do quanto era duro fazer um amigo. A timidez que me sufocava, o medo das meninas bonitas, a sensação de que eu sobrava. Mas houve um outro lado. O nascimento do que eu sou. A luta para ser. A vontade de sobreviver.
  Pego o metrô e volto para casa.
  Em todos esses anos sonhei muito com essa escola. Eu sonhava sempre estar nela e não conseguir voltar para casa. Estar fora dela, na rua, mas sem conseguir sair de onde me encontrava. Pois hoje entrei e saí. Estive e retornei. E sinto que mergulhei em mel.