MANCHESTER A BEIRA MAR - KENNETH LONNERGAN.

   Italianos que emigraram para o Brasil eram mais italianos que os que ficavam na Itália. O mesmo acontecia com japas, alemães e poloneses. E seus descendentes, muitos deles, mantém ainda hoje tradições que na Europa e Asia se foram faz tempo. Este filme é profundamente irlandês. Todos são irlandeses, Boston é uma cidade irlandesa e irlandeses americanos têm orgulho de suas raízes. Por isso o filme me lembrou muito Ken Loach. Com uma diferença cruel: Loach tem uma fé. Este filme, filho típico do momento atual do cinema americano, não. Loach crê na amizade e na comunidade. Comunista antigo, ele não crê em nada de invisível, mas transferiu sua religião para Marx. Marx ao estilo anos 50, humanista, sonhador, assumidamente utópico. Por isso o respeito muito.
  Tire de um irlandês sua fé em Deus e na família e voce terá um boneco vazio. Ou um gênio construtor de arte. Casey Affleck é um boneco vazio. O filme é um roteiro vazio. Não há uma gota de verdade nele. Lonnergan afetadamente pensa estar nos mostrando "vida como ela é". Só parecerá vida real para aqueles que nunca viveram. O personagem central, deprimido, tem uma vida de roteiro. O filme caminha dentro de um óbvio frio dramático cool distanciado. E o ator, sem nada para fazer, anda pelos sets em sono eterno.
  O final do filme é emocionante. Mas é uma emoção barata, digna de programas que dão casas para os pobres. Eu sou humano, me emocionei, mas minha inteligência se revoltou. O filme é barato no pior sentido. O roteiro é barato. O ator é barato. As situações são baratas. As cenas, nunca indo até o fundo, são covardes. Não só Loach, Mike Leigh faria maravilhas em certas cenas. Eles não a cortariam. Deixariam o drama acontecer. Aqui cortam tudo. São vinhetas a procura de vida.
  O cinema hoje é isso: filmes de ação e filmes de desação. Não há meio termo. Quase não há. Quando há, o público, desacostumado a filmes sem rótulo, não os assiste. Filmes Marvel têm seu público. Filmes como este, têm seu público. Filmes que unem os dois mundos, ou que tentam fazer a tal "arte" sem parecer mortos e frios, não encontram público nenhum. Acabam por ser considerados muito POP pelo público da rua Augusta, e muito pobres pelos frequentadores de shopping. ( Penso no ótimo filme com Jeff Bridges como exemplo ).
  E é isso.