EPIFANIA

   Veio sem avisar. Sem ser pedida ou desejada. Apenas surgiu.
 Era sexta-feira e eram 3 e quinze da tarde. Eu estava na escola.
 Após semanas de calor seco, o tempo mudava. O ar estava úmido e mais fresco e o sol parecia mais gentil.
 Os alunos jogavam bola entre árvores mal cuidadas e eu me sentei num banco de cimento. E então aconteceu...
 Uma satisfação absoluta desceu sobre mim. A luz da tarde se tornou a mesma dos melhores momentos da minha vida, e então eu senti dentro da minha carne a paz que a tempos eu não conhecia. Um suave calor dentro da minha barriga e o ar entrando em mim como se fosse tão leve como quando as coisas começam a respirar.
 Os alunos jogavam gritando, corriam, pulavam e eu os olhei em detalhe. Era o mesmo jogo. Eram os mesmos garotos. Era a mesma vida.
 Pensei, sem qualquer tipo de emoção, na eternidade da vida, no jogo que se repete. Na eternidade que está aparente em tudo o que nos cerca mas que esquecemos de ver. O momento é de pura delícia, de clareza de sol.
 Um besouro surge e voa zumbindo. Faz evoluções em torno das árvores. Se demora, se vai.
 Minha epifania.
 O jogo termina.
 Outro dia tem mais.
 As sombras parecem doces. É o mesmo mundo de sempre. E depois chove. E tudo vai bem.