ASSEXUADOS

   Mais difícil que aceitar um homossexual ou um pansexual hoje, é aceitar um assexuado. Posso já ver um freudiano ou um sociólogo a dizer que eles são doentes, reprimidos, seres aleijados. Exatamente como os gays eram vistos antigamente. Importante é entender o que eles são e porque tentam se afirmar como tal.
   Conheço bem essa turma. Minha adolescência foi bastante tímida. Não sei se fui um assexuado de vanguarda, um dos primeiros, lá por 1978. Eu comprava revistas eróticas, via filmes de nudez, amava olhar mulheres na praia. Mas ao mesmo tempo eu detestava as baladas com meus amigos. Eles só pensavam em sexo, em putas, em comer alguém; e tudo o que eu queria era encontrar um "grande amor". Até hoje isso me incomoda. Me sinto pressionado a ter sexo, a valorizar a vida sexual, a praticar, a desejar, a ser um homem com várias parceiras. O problema é que detesto a palavra parceira. Odeio a parceria. Fico então num meio termo: nem assumidamente romântico, nem um comedor.
   Pela reportagem que leio, inglesa, claro, homens e mulheres assexuados têm vida sexual, até transam, mas nunca sentem ser essa a prioridade. O que eles querem é carinho, abraço, conversa, sair e viajar, companheirismo. O sexo é visto como ok, mas nada de sublime. Há neles uma saudade da era do romantismo, do platonismo, da vida espiritual. Não são religiosos, quase todos são ateus, mas sentem falta do entendimento entre almas, seja isso o que for. Acima de tudo eles fogem da hiper-sexualidade do mundo moderno. E por isso penso que eles têm um poder enorme de incomodar, de sofrer chacota, de não ser aceito.
   Minha primeira reação é pensar que são todos gays não assumidos.
   Sexo é divertido. Mas está longe de ser uma coisa central na existência. Pode estar nascendo aí uma bem vinda clareza.