CORONEL JACK- DANIEL DEFOE

   Daniel Defoe escrevia para garçons. E para mulheres entediadas. E é essa sua maior importância. Antes de Defoe, livros eram escritos para eruditos. A literatura era específica. Homens, professores, religiosos, filósofos. Livros eram para gente do meio, gente de poder. E portanto, os textos eram como coisas fechadas. Com Defoe, que antes de romancista foi jornalista, livros passam a ser produtos. E como produtos devem ser vendáveis. O apelo precisa ser geral. O interessa variado. Daniel Defoe é portanto um escritor moderno.
   Este livro trata de um garoto que vive nas ruas de Londres. Ele rouba. Depois de várias peripécias ele vai aos EUA. Como escravo. E fica rico. Interessante o modo como Defoe vê a escravidâo. Brancos eram escravizados. Condenados ingleses eram enviados a colônia como forçados. E lá o personagem de Defoe descobre que negros têm alma! Essa parte pode chocar leitores de hoje. Mas é mérito do autor ser razoavelmente liberal. 
   O romance tem um esquema bem definido. Tudo começa nas ruas. Depois vem a fuga da lei ( e essa é a parte que mais gostei, uma viagem a pé até a Escócia ). A vida como colono na América. E só então, as mulheres. Casamentos que fracassam. Como em Robinson Crusoe, as mulheres pouca importância têm. Fala-se muito de dinheiro. O que importa é sobreviver. Comer. Ter onde dormir.
  Escrito no começo do século XVIII, época crucial em que o romance surge como manual do mundo burguês, Defoe exibe todas as qualidades e defeitos da sociedade que seria a dominante pelos próximos dois séculos.