THE NEXT DAY, DAVID BOWIE, A FALTA QUE O SILÊNCIO FAZ

   Os melhores discos de Bowie são cheios de silêncio. Ziggy Stardust é todo silencioso e seu disco mais fascinante, LOW, é obra-prima de espaços vazios. Há espaço oco em Diamond Dogs, vive o vácuo em Lodger, e mesmo Pin Ups está cheio de buracos. O som parece incompleto, falta alguma coisa e esse espaço dá toda a respiração, a vida a seus grandes momentos. A maior parte dos discos que adoro são assim. Eles possuem um som que reverbera no vazio. Mesmo os mais barulhentos, Led II ou Raw Power tem essa mistura de fúria barulhenta e silêncio suspenso.
  Na primeira audição deste disco senti aversão. Bowie e Tony Visconti mixaram tudo alto demais. Tem som em excesso e pouco vazio. Nessa sonoridade inflada ele lembra os piores discos de David. A bateria sincopada e gravada sem sutileza, o baixo inaudível, guitarras em excesso, vocais confusos, tudo faz o que Jimmy Page diz que NÃO se deve fazer, exagerar, embolar, misturar os sons.
  Na terceira audição a coisa começa a mudar. Bem, esquecemos o gênio de 1971-1983 e vamos ouvir o disco como se fosse de alguém desconhecido. O que surge é um bom disco de 2014. Digno número 1 da parada inglesa. Riffs muito bons, uma variedade de tempos e um e outro refrão grudento. Não deve nada as boas bandas deste século enfadonho. E as letras são, essas sim, obras que remetem ao camaleão de Londres. Bowie poucas vezes foi tão confessional.
  Eu não ia escrever sobre este disco. Só escrevo daqueles que fazem parte da minha alma. Mas me pediram para tentar. Enfim, devo dizer que So She é o tipo da música que remete aos grandes momentos de Bryan Ferry. Tem uma tristeza fria, uma elegância na dor que é muito dificil de se conseguir. Destaco também a faixa Heat, uma belíssima confissão sobre a dor. Sim, é um Bowie sem enfeites, sem maquiagem.
  Mas, devo dizer, sinto falta do silêncio.
  Sobre a capa do cd.
  Heroes é copiado sem parar, trocam apenas o nome na capa. É isso o que entendi.