OS PUNS DE ANITTA

   Amigos no Facebook comentam indignados a matéria do Faustão sobre Anitta em que ela se revela a rainha do "Pun na Van".
   Eu já falei tanto sobre isso....vamos lá again!
   Em 1977 a Globo exibia na faixa nobre das 21 horas óperas de Wagner e peças de Gogol. Porque?
   O Brasil era então um país tão pobre, tão injusto, que a TV só mirava a elite. Simples assim.
   ( Otimistas gostam de dizer que a TV de qualidade se encontra em canais a cabo. Eu pergunto: Quais? O que vejo são séries banais, draminhas óbvios e muita violência. Downtown Abbey, que é legal, se comparada a Brideshead Revisited perde de lavada. Os canis HBO ou Fox não são absurdos como a Rede TV, mas estão longe de O Capote ou O Navio Fantasma ).
   Hoje TUDO é voltado a classe C e D. E mesmo o cinema americano se voltou para chicanos e o povo da China e India. Ah, mas há o cinema "de classe", aquele de Woody Allen, Scorsese, PT Anderson e fora dos EUA aquele de Von Trier ou de Almodóvar. Weeeellll....
   Woody Allen se vulgarizou. Seu último filme "adulto" foi Desconstruindo Harry. Depois ele só fez filmes Pop para teens. Alguns bons, como Todos Dizem Eu Te Amo ou Barcelona, mas nada com os riscos e a ousadia de Manhattan ou Hannah. Idem para Scorsese e nem preciso falar de Almodovar. Von Trier faz filmes "de arte" para jovens impressionáveis do cursinho pré-USP. Os títulos são peças de marketing planejado e tudo é cópia de alguma cópia copiada de outra cópia. Vazio de ideias, vazio de sutileza: Jeca.
   Anderson tenta bravamente, mas quem o vê?
   O público C e D quer filmes tipo Marvel, comédias com puns e mais 007.  Nem para comédias românticas eles possuem sensibilidade. Quanto ao outro público, no qual me incluo, temos filmes saudosistas ou filmes de "arte" sem arte nenhuma. Arte sem novidade, sem ousadia formal ou relevânca histórica. Veja a encruzilhada: como surgir uma nova geração original, se o público nada quer saber de história, de arte ou daquilo a que não está acostumado?
   Teremos cada vez mais puns e Anittas. O sensacionalismo de corpos dilacerados, frases sobre o vazio e cenas cheias de "dor e sofrimento". TV e Cinema que nos educam, nos educam para a vida como ela é: cruel e chata. ( Ela não é cruel e chata, mas fizeram dela essa chatice sangrenta ).
   Estou sendo amargo? Não, pois ainda me divirto, e muito, com um monte desse lixo. A sanidade está em não se deixar enganar. Distanciamento irônico. Adoro O Rei dos Patos, Downtown Abbey, Ronnie Von ou Kitchens Nightmare. Mas sei o que são: passatempos irrelevantes. O perigo está em formadores de opinião encantados com o lixo e o chamando de "arte". Pura babaquice.
   A democracia tem um preço. É bom ver toda a população com seus programas. Mas é esquisito pacas ver gente sem referência de comparação chamando Friends de clássico da nossa cultura ou Dr, House de obra-prima. São ok. Às vezes adoráveis. Mas devemos sempre ter em mente, são pobres e ralos.
   Resistir até onde der. Manter a cabeça fora da bosta. Ironizar. Não aceitar os puns, as cabeças decepadas e as neuroses esfregadas em sua cara. Manter o pudor.
    É isso.