VIOLÊNCIA

   A vida é violenta. Toda vida. Violência que tem sentido, a sobrevivência. O mundo do homem sempre foi violento, mas essa violência, pública ou privada, sempre foi sinal de um sentido. Voce pode discordar da feiticeira queimada em praça pública, pode abominar os cristãos comidos por leões em arenas romanas, mas toda essa dor, todo esse sangue tinha um sentido. Preservar um status quo. Violência que tinha seu ritual, suas regras. Isso se traduzia na guerra. Existia uma coisa chamada Campo de Guerra. Quando Hunos ou Godos ignoravam essas regras de guerra eram imediatamente considerados bárbaros. A guerra tinha um limite, como a violência tinha seu lugar.
   Quando o exército alemão aniquilou a cavalaria polonesa uma regra de ouro foi quebrada. Foram tanques e metralhadoras esmagando cavalos e sabres, uniformes de gala e estandartes. A violência deixa de ter ritual, ética e limite. Não se deseja mais a captura da posição inimiga. Não se deseja mais a captura do inimigo. Deseja-se a aniquilação absoluta.
   Hoje fomos completamente educados para a violência. Ela não nos deixa mais chocados. E pior, ela existe como um fim em si-mesma. Não a utilizamos a contragosto, ela faz parte da coisa. Observe este exemplo...Em filmes antigos a cena violenta só aparece em extrema necessidade. O sangue não precisa ser mostrado, o tiro é quase escondido. A violência está lá, mas nunca é o centro do evento. Hoje o centro é o sangue, a tripa que salta, a dor.
   Tudo então se torna violencia pura. O video-game não pede estratégia, ele apenas quer tiros e reflexo, adrenalina. As ruas têm cenas de violência que já nada produzem de indignação.
   Mudo o texto.
   Na sala ao lado acabo de ouvir que uma certa cantora novata fazia com que seus músicos na van escutassem seus puns. Isso é dito num programa em rede nacional. Isso é a tal violência não percebida. Não o ato da cantora, mas o fato de termos de ouvir tal história. Dessensibilização.
   Volto.
   É isso.