Um dos temas do livro que li, de Henry James, é a mania vitoriana de colecionar coisas. Em fins do século xix se colecionava tudo e algumas dessas coleções se fizeram moda por um século. Coleções de selos, borboletas. caximbos, isqueiros, chapéus, écharpes, bengalas, gravuras japonesas, canetas, anéis, flores, posters. Essas as mais classe média, os ricaços colecionavam pinturas, esculturas, porcelana e livros raros.
Ainda se colecionam coisas? Não era útil, de certa forma, o desenvolvimento do cuidado, do espirito de caça, da organização que uma coleção pedia e exigia?
Penso em crianças. Até a pouco colecionava-se de tudo. Bolinhas de gude, maços de cigarro, tampinhas de garrafa, times de jogo de botão, figurinhas, soldadinhos de chumbo, miniaturas de carros raros, gibis. Não me importa a minima as razões freudianas ( Freud sempre cria razões onde elas são inescrutáveis. Acima de tudo ele era um neurótico criativo ), o que é óbvio e certo é que ao colecionar voce cria um vínculo com o mundo sólido. Voce aprende a manter, a guardar e a preservar.
Mas é claro que nem tudo que voce tem em grande quantidade forma uma coleção. Ter milhares de dvds ou de vinis e os escutar não significa que voce é um colecionador. A base da filosofia do colecionismo é a inutilidade aparente da coleção. Um monte de discos de vinil se torna uma coleção quando:
A- Existe a caça. Voce parte a campo para capturar o item que lhe falta. Não precisa ser um disco que voce queira ouvir, é um disco que voce deve ter para tornar sua coleção completa.
B- A não completude. Uma coleção é sempre incompleta. Um item pede outro item que remete a um outro item.
C- O desejo de ter não significa uma vontade de usufruir. Coleções são amostras, ficam em vitrines, são pouco usáveis.
Já fui colecionador. De discos, de gibis, de carrinhos, e de filmes. Não sou mais. Eu comprava discos para completar coleção, hoje tudo que tenho é para ouvir e não para ter. Todos os meus filmes são assistíveis. No inicio eu ia atrás de tudo que fosse "um item que completa o acervo". Hoje só possuo o que adoro. Quem der uma olhada em minha estante vai estranhar que dentre tantos dvds não exista um só Buñuel ou um mísero Pasolini. Como disse, não é uma coleção.
As crianças hoje fazem coleções? Não vejo isso acontecer. Bolinhas de gude, botões, figurinhas....cuidadas, preservadas, amadas...não vejo isso.
Talvez o colecionismo fosse uma reação de um povo industrializado contra a descartabilidade. Guardar era salvar algo do fim, do lixo, do tempo. Penso que hoje tá tudo dominado, a descartabilidade venceu enfim. Se uma criança sente que seu pai, sua mãe e até ele mesmo são intercambiáveis, ele vai criar um vínculo atemporal com o que? O protesto salvacionista que nos fazia guardar uma tampinha de guaraná não faz mais sentido.
Uma pena. Devíamos colecionar coleções.
Ainda se colecionam coisas? Não era útil, de certa forma, o desenvolvimento do cuidado, do espirito de caça, da organização que uma coleção pedia e exigia?
Penso em crianças. Até a pouco colecionava-se de tudo. Bolinhas de gude, maços de cigarro, tampinhas de garrafa, times de jogo de botão, figurinhas, soldadinhos de chumbo, miniaturas de carros raros, gibis. Não me importa a minima as razões freudianas ( Freud sempre cria razões onde elas são inescrutáveis. Acima de tudo ele era um neurótico criativo ), o que é óbvio e certo é que ao colecionar voce cria um vínculo com o mundo sólido. Voce aprende a manter, a guardar e a preservar.
Mas é claro que nem tudo que voce tem em grande quantidade forma uma coleção. Ter milhares de dvds ou de vinis e os escutar não significa que voce é um colecionador. A base da filosofia do colecionismo é a inutilidade aparente da coleção. Um monte de discos de vinil se torna uma coleção quando:
A- Existe a caça. Voce parte a campo para capturar o item que lhe falta. Não precisa ser um disco que voce queira ouvir, é um disco que voce deve ter para tornar sua coleção completa.
B- A não completude. Uma coleção é sempre incompleta. Um item pede outro item que remete a um outro item.
C- O desejo de ter não significa uma vontade de usufruir. Coleções são amostras, ficam em vitrines, são pouco usáveis.
Já fui colecionador. De discos, de gibis, de carrinhos, e de filmes. Não sou mais. Eu comprava discos para completar coleção, hoje tudo que tenho é para ouvir e não para ter. Todos os meus filmes são assistíveis. No inicio eu ia atrás de tudo que fosse "um item que completa o acervo". Hoje só possuo o que adoro. Quem der uma olhada em minha estante vai estranhar que dentre tantos dvds não exista um só Buñuel ou um mísero Pasolini. Como disse, não é uma coleção.
As crianças hoje fazem coleções? Não vejo isso acontecer. Bolinhas de gude, botões, figurinhas....cuidadas, preservadas, amadas...não vejo isso.
Talvez o colecionismo fosse uma reação de um povo industrializado contra a descartabilidade. Guardar era salvar algo do fim, do lixo, do tempo. Penso que hoje tá tudo dominado, a descartabilidade venceu enfim. Se uma criança sente que seu pai, sua mãe e até ele mesmo são intercambiáveis, ele vai criar um vínculo atemporal com o que? O protesto salvacionista que nos fazia guardar uma tampinha de guaraná não faz mais sentido.
Uma pena. Devíamos colecionar coleções.